02/05/2021

A pandemia nos mostrou que é preciso reinventar nossos modos de viver

Ruam Oliveira | OBORÉ Projetos Especiais

Muitos são os aprendizados obtidos em razão da pandemia. "O vírus desvelou muitas coisas que estamos fazendo de errado com o mundo", apontou o médico sanitarista Gonzalo Vecina, na última conferência do Encontros para entender melhor o mundo, proposta de imersão em grandes temas da atualidade promovido pelo Projeto Repórter do Futuro, da OBORÉ.

Vecina apresentou pontos que merecem a atenção da população quando o assunto é observar os ensinamentos desta época. Um deles trata-se da maneira como é feita a produção alimentar no mundo. Usando como exemplo o fato de que o vírus que deu origem à pandemia de covid-19 foi originário da relação alimentar chinesa, o médico pontuou que é necessário repensar a maneira como o mundo se alimenta.

O médico Gonzalo VecinaHá no rastro deste pensamento algumas doenças de origem animal, como a gripe aviária e suína, por exemplo. "O jeito como produzimos alimento é feito de maneira muito destrutiva", destacou. Existe, na visão do médico, uma pressão ecológica que não pode ser ignorada.

A desigualdade social também foi um dos temas apontados por ele. "As pessoas que ficam em casa não adoecem, não pegam o vírus, mas quem precisa sair para ter o que comer acaba encontrando o vírus". Atualmente o PIB mundial gira em torno de 70 trilhões de dólares, apontou o médico, e para que ocorra uma equidade seriam necessários aproximadamente 430 trilhões de dólares, o que seria inviável, visto que grande parte da riqueza dos países tem origem em recursos naturais.

"A desigualdade mata e não é uma figura de linguagem", afirma o médico. A desigualdade a qual ele se refere está explicitada durante a pandemia nas formas de trabalho que colocam em risco majoritariamente a população preta e pobre do Brasil. "Ela [a desigualdade] só vai acabar se a gente quiser. É preciso ter vontade de combatê-la".

Um dos responsáveis pela criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (Anvisa), Vecina também apontou a necessidade da existência de um sistema universal de saúde. Para ele, a atuação do SUS (Sistema Único de Saúde) tem sido fundamental no combate de muitas doenças, mesmo antes da pandemia. O trabalho do SUS, seja no plano de imunização nacional ou em outras estratégias de suporte à saúde, foi importante para se ter "o mínimo de civilidade" no país. Reconhece, porém, que existem dificuldades a serem enfrentadas, principalmente na gestão pública.

Vacina contra a covid-19
No centro das discussões sobre uso e aprovação de vacinas estrangeiras, Vecina tem sido muito solicitado por diversos veículos de comunicação. Ele destacou que o Brasil não conseguiu produzir uma vacina própria porque falta ao país investimento em ciência e tecnologia. "Nós estamos destruindo a ciência brasileira removendo incentivos em bolsas de mestrado e doutorado", reforçou. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) reduziu a quantidade de bolsas que serão pagas em 2021. A estimativa é de que apenas 13% dos projetos de pesquisas que estão aptos a receber bolsas, de fato a receberão.

Sobre os negacionistas, ele afirma que são uma parcela menor da população se comparada ao restante dos que defendem e apoiam a vacinação. Mas declara que eles são mais "barulhentos". "Somos muito silenciosos em comparação aos negacionistas", destacou.

A palestra com Gonzalo Vecina encerra este módulo do Encontros para Entender melhor o Mundo. Promovido pela OBORÉ, o curso aconteceu ao longo do mês de abril de 2021 e contou com o apoio institucional do Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC – LabLivre UFABC, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo – IEA/USP, do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais – IPFD e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo - Abraji

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