18/02/2021

Café sem Pauta: encontros para falar do jornalismo

Ruam Oliveira | OBORÉ Projetos Especiais

"Café sem pauta? Como assim?" pergunta Marilu Cabañas, repórter da Rádio Brasil Atual e da rede TVT. "Já tiramos muitas pautas excelentes com esses encontros! Não é só a pauta, é a energia que rola entre os participantes. A velha guarda, a guarda não tão velha e a nova geração, os estudantes de Jornalismo, todos apaixonados por jornalismo e comunicação de uma forma geral", diz a jornalista, frequentadora assídua desde a primeira edição.

No Café Sem Pauta - reunião virtual semanal promovida pela OBORÉ que tem como objetivo discutir jornalismo e ser um espaço de encontros e reencontros - estudantes de jornalismo e repórteres de longa estrada na profissão se juntam todo sábado, a partir das 8h30, em ambiente remoto, para compartilhar dúvidas e questionamentos sobre o cenário político e social brasileiro, assim como dividir histórias de suas trajetórias no jornalismo.

Tudo começou há seis meses atrás, com o nome de "Café com Pauta”. Ao final do 13º curso ‘Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter’, em julho de 2020, estudantes do Projeto Repórter do Futuro sugeriram manter os encontros aos sábados pela manhã de forma regular e em ambiente virtual por conta da pandemia. Ninguém queria se sentir órfão.

Com o passar do tempo, o nome foi alterado para "Café sem pauta" porque o assunto é decidido na hora, no momento em que estão todos reunidos. A ideia original foi do jornalista Ronald Sclavi, professor e coordenador do Projeto Repórter do Futuro. A ele se juntou o também jornalista Aldo Quiroga que bolou a logomarca que sempre acompanha o convite para acesso à reunião.

"Foi um jeito de a gente se encontrar", diz Sérgio Gomes, diretor da OBORÉ e o anfitrião responsável por emitir semanalmente os links de acesso à atividade. Ele aponta que o Café sem Pauta "não tem dono", não tem um sejam bem vindos ou obrigado por ter aparecido. É um encontro entre colegas com um interesse comum, que é pensar, discutir e refletir sobre jornalismo, onde todos os participantes estão livres para se manifestar.

Atuantes, os estudantes se engajam na troca de experiências. "Tem sido uma oportunidade de estar em contato com jornalistas que estão há muito tempo na área, que fizeram e fazem muito pelo jornalismo no nosso país", diz Camilo Mota, estudante do 5º período de jornalismo na PUC-SP e atual Diretor de Comunicação do Centro Acadêmico Benevides Paixão.

"Diria que é um divisor de águas, uma experiência que a gente não tem nas universidades. é uma alegria, um incentivo e inspiração para nós estudantes de comunicação do país" aponta Camilo.

Um dos desdobramentos destes encontros foi a criação do Manifesto da União Nacional dos Centros Acadêmicos de Jornalismo (UNICAJor), que tem como objetivo aproximar centros acadêmicos de diversas faculdades de jornalismo em todo o país e promover mais diálogos entre estudantes e também entre as universidades. Mota é um dos líderes da inciativa.

Outro fruto desses encontros foi a proposição em conceder à Marilu Cabañas o título de cidadã paulistana. A ideia foi apresentada em conjunto durante um dos Cafés e levada ao vereador Eliseu Gabriel (PSB). A decisão ainda aguarda aprovação da Mesa Diretora da Câmara Municipal mas já tem data indicada: 25 de junho.

Comparecem com frequência ao Café os jornalistas Paulo Oliveira, Ciro Pedroza, Colibri Vitta, Aldo Quiroga, Marcelo Soares, André Deak, Mauro Malin, Paulo de Tarso Ricordi, Gilberto Nascimento, Jorginho Araújo, Marcelo Mario de Melo, Elifas Andreato, Brum, Marilu Cabañas, Bianca Vasconcellos, entre muitos outros.

Não é um encontro de massas, no entanto. Os participantes são integrantes do Projeto Repórter do Futuro, da coordenação do projeto, parceiros e amigos da OBORÉ. O Café sem pauta acontece todos os sábados, às 8h30, via Zoom. Também quer participar? Basta enviar um WhatsApp para 11 99320.0068 e pedir o passaporte de acesso. Venha e traga mais alguém. A casa é nossa!

Leia a entrevista exclusiva com Marilu Cabañas

Como tem sido para você participar do Café sem pauta?

Café sem pauta? Como assim, rs? Já tiramos muitas pautas excelentes com esses encontros! Pra mim está sendo tão prazeroso nesses tempos de pandemia... Não é só a pauta, é a energia que rola entre os participantes. A velha guarda, a guarda não tão velha e a nova geração, os estudantes de Jornalismo, todos apaixonados por jornalismo e comunicação de uma forma geral. Como diz o Aldo Quiroga, apresentador da TV Cultura, a gente se ama! Por isso é sempre muito legal. Temas pesados são discutidos “pero sin perder la ternura”. Por falar em Quiroga, foi nesse encontro que soube do documentário que ele fez sobre o Chile, “Como o Céu é do Condor”, exibido na TV Cultura. Trabalho impecável!

Outro dia a Bianca Vasconcelos veio e falou sobre o documentário “Carolina de Jesus, a escritora além do quarto”, que ela dirigiu para o “Caminhos da Reportagem”, da EBC. O poeta pernambucano Marcelo Mário de Melo é um show à parte, simplesmente maravilhoso. Ele faz versos, ali na hora, alinhavando tudo o que discutimos. O consagrado fotógrafo Jorge Araújo, que tantas vezes eu cruzava na rua, em reportagens, foi um momento de grande satisfação e saudade. É o “monstro” da fotografia! Tantos prêmios! Outro premiadíssimo, o jornalista Gilberto Nascimento, autor do livro “O reino: A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal”, tem dado a honra de sua presença nos encontros.

- Qual sua percepção sobre a necessidade desses encontros "espontâneos" no período em que estamos vivendo? E fora desse momento de anormalidade, como você vê essa necessidade de encontros?

Eu participo desse encontro há poucos meses e acho incrível justamente essa espontaneidade. A gente quase nunca sabe os caminhos que a conversa vai ter, que convidado que vai aparecer, mas sempre é muito produtivo e emocionante. Nesse período de pandemia, inevitavelmente discutimos os horrores desse período que estamos vivendo, ou melhor, morrendo e com esse governo de inação diante da maior tragédia sanitária do mundo. Cenário de horror, de mortes evitáveis, é criminoso. E ao mesmo tempo, a esperança depositada nesses jovens estudantes que já fazem o bom jornalismo, como “jornaldois”, do qual já sou assinante. E esse momento de encontro é uma oportunidade de refletirmos tudo o que está acontecendo e o que não está acontecendo no país, a começar pela falta de coordenação do governo federal para o enfrentamento da pandemia. É importante discutir, trocar ideias, levantar nomes de boas fontes para entrevistas, pautar temas que muitas vezes não vemos na mídia tradicional. Muita coisa que fico sabendo é pelo Café Sem Pauta. Tô ficando viciada nesse Café, rs.

- A ideia do café sem pauta tem como base um desejo dos estudantes de jornalismo de conversar mais sobre a profissão. Como você vê essa troca de experiências / informação no ambiente virtual?

Acho genial e quero falar do profundo respeito e admiração que tenho pelo Sérgio Gomes, da Oboré, o maior incentivador desse encontro e de tantos outros que sou testemunha ao longo da minha carreira. O ”Serjão” cutuca os estudantes, cobra, provoca no melhor sentido. Sentido, porque “sente” amor por eles. É lindo de ver, se exagera na dose, ele pede desculpa. É uma relação muito respeitosa sempre. E tem dado frutos. No encontro mais recente eles lançaram um manifesto conjunto, entre centros acadêmicos de várias universidades. Essa união, nesse momento, é muito importante, revela a vitalidade desses jovens para se posicionarem em relação ao momento atual da realidade brasileira. E o ambiente virtual proporciona esse encontro de forma mais fácil diante da pandemia. E o virtual veio pra ficar. Acho que mesmo com a vacina, essa prática será tendência. E como você diz, é uma troca de experiências, eu aprendo demais com esses jovens. São muito antenados, interessados, e já estão pondo a mão na massa, produzindo material de qualidade que serve de inspiração para os mais velhos.

- Geralmente os assuntos de discussão são definidos na hora. Me conta sobre um dia em que você curtiu muito ter participado? Qual era o assunto da vez e por que você guardaria esse dia na memória?

Puxa, são vários. Em tão pouco tempo já participei de encontros incríveis. Foi emocionante o dia em que o padre Julio Lancellotti veio falar sobre o trabalho dele no auxílio aos moradores em situação de rua, durante a pandemia. Ele é do grupo de risco e mesmo assim foi para o front. É elogiável a atitude corajosa do padre Julio, que conheço há mais de 30 anos. Foi um momento de relembrar antigas reportagens que fiz com ele, como da Casa Vida que ele construiu para abrigar crianças abandonadas que estavam contaminadas pelo HIV-Aids. Passeatas que fizemos juntos com catadores de materiais recicláveis que começavam a se organizar em cooperativas. Missas que ele celebrou em intenção à alma de moradores de rua assassinados. A ameaça de morte que ele recebeu recentemente de um parlamentar bolsonarista. Foram muitos os encontros e entrevistas com o padre Julio ao longo da minha carreira. Tenho um carinho muito grande por ele, é como se fosse alguém da minha família. Nesse dia em que ele participou do Café Sem Pauta, ele falou da situação de extrema necessidade dos moradores em situação de rua. Foi comovente. Como diz o Papa Francisco, o padre Julio é “mensageiro de Deus”!

Outro dia que vai ficar pra sempre na minha memória foi a surpresa que o Serjão e o Colibri, diretor da Rádio Brasil Atual, fizeram de convidar amigas e amigos próximos, para a live em que fui informada que ganharia o título de “Cidadã Paulistana”, concedida gentilmente pelo vereador Eliseu Gabriel. Nunca imaginei esse momento de felicidade em meio à pandemia. Foi uma surpresa linda! Não falei que a gente se ama no “Café Sem Pauta “? Ah lembrei de outro dia em que estava com a coluna travada. Participei deitada na cama e o Serjão falou na live, “o Rivaldo, jornalista, também é fisioterapeuta, e quando acabar a live ele vai te ajudar!” O Serjão escala o pessoal! E afinal, descobri que o Rivaldo tinha estudado na minha classe de Jornalismo, na Faculdade Católica de Santos. Olha o “Café sem Pauta” e com muita surpresa!

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