11/10/2021

Chefe de delegação do CICV em Pretória discute ajuda humanitária no sul da África

Ruam Oliveira | OBORÉ Projetos Especiais

Sobrevoando países do sul da África, Mamadou Sow encontra diferentes cenários - de catástrofes a potências. Atuando como chefe de delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o sul da Africa – Namíbia, Botsuana, Zimbabue, Suazelândia, Lesoto e Africa do Sul - já presenciou diversas situações ao longo do tempo em que trabalha com ajuda humanitária.

Sow compartilhou algumas dessas histórias e de sua experiência no último sábado, 9/10, com estudantes do Projeto Repórter do Futuro durante encontro do módulo sobre cobertura de guerra e conflitos armados.

Grande parte dessas histórias, devido ao próprio trabalho do CICV, são sobre situações de violências, conflitos internos ou migrações. Ele lembra sempre que é importante colocar as vítimas, apesar dos números e estatísticas, no centro de todas as discussões e esforços.

Leia também

As migrações no continente africano têm sido cada vez mais frequentes. Não apenas migrações para países da Europa, como também deslocamentos internos têm crescido. De acordo com António Gutierres, secretário-geral das Nações Unidas, em 2020 havia aproximadamente 55 milhões de pessoas vivendo como deslocadas em seus países.

As pessoas migram pelos mais diferentes motivos, desde fuga de áreas de conflitos a busca por trabalho, por exemplo.

A delegação do CICV em Pretória monitora a situação humanitária, promove o Direito Internacional Humanitário (DIH), restabelece o contato entre familiares separados pelo conflito e ajuda as Sociedades Nacionais a melhorarem a sua capacidade de respostas a emergências.

Dentre os medos de quem vive nesta região, Sow aponta que o mais fortes e mais comum é a possibilidade de que entes queridos sejam tirados do seio familiar sem que possam retornar. O outro medo é o da fome.

O chefe de delegação destacou que a região onde atua costumava ser um bloco mais estável dentro da união africana, porém esse cenário se alterou. Como exemplo, citou o norte de Moçambique e as recentes insurgências de grupos armados em Cabo Delgado, o que também faz com que pessoas busquem refúgio em outras regiões. "O impacto é difícil de descrever"


O Chefe de delegação Mamadou Sow em conferência com repórteres do futuro.

Para lidar com a situação em Moçambique, especificamente, o CICV criou em julho deste ano uma delegação local que dialoga diretamente com Genebra, na Suíça, onde está localizada a sede da organização.

"As vilas foram atacadas, os civis mortos, fazendas destruídas, hospitais queimados e as pessoas também foram sequestradas, isso no norte de Moçambique", disse.

As pessoas indo de barco para a Europa é um problema, ele concorda. Mas não é a única realidade. "Temos muitas pessoas migrando dentro da África. A fronteira para África do Sul é um destino muito procurado". Sow diz que a própria incerteza a respeito do destino das pessoas é, por si só, uma necessidade humanitária e justifica a presença do CICV.

Diálogo com grupos armados

"As pessoas não entendem por que alguém falaria com jihad", diz Sow. Falando para um público de jornalistas e futuros repórteres, o chefe de delegação reforçou que é possível entender esse tipo de posicionamento do CICV porque o objetivo da organização é chegar até às vítimas. Para isso, não se envolve nos conflitos ou toma posição. Um dos princípios fundamentais da instituição é a neutralidade. "Tentamos um diálogo bilateral e confidencial com as pessoas que têm armas. Em vez de dizer que somos amigos e estamos condenando"

A instituição assume um posicionamento de isenção nos conflitos. "Os governos entendem que falamos com governos, com rebeldes, com jihads… é a única forma que temos que garantir que vamos ter acesso a quem está sendo afetado e também como forma de nos protegermos", pontuou.

A conversa sobre a atuação da organização pelo mundo faz parte da programação do módulo do Projeto Repórter do Futuro que prepara estudantes de comunicação para a tarefa de cobrir situações de conflitos armados.

Na próxima semana, os estudantes irão conversar sobre a cobertura brasileira em temas humanitários.

Confira a programação do curso

11/09 - O trabalho do CICV no Brasil e no mundo e suas principais preocupações humanitárias em 2021 – Chefe da Delegação Regional do CICV para a Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Alexandre Formisano.

18/09 - Introdução ao direito aplicável nos conflitos armados – Jurista especialista em Direito Internacional Humanitário, Tarciso dal Maso Jardim.

25/09 - Normas internacionais aplicáveis à função policial no uso da força e armas de fogo - Responsável Técnico do Programa com Forças Policiais e de Segurança do CICV, Paulo Roberto Oliveira.

02/10 - Volta ao mundo: o CICV em diferentes continentes - Oriente Médio.

09/10 - Volta ao mundo: o CICV em diferentes continentes - América Latina e África.

16/10 - Cobertura da imprensa brasileira de temas humanitários.

23/10 - Encerramento do curso: avaliação e diplomação dos estudantes.

Mais informações

OBORÉ – Projetos Especiais em Comunicações e Artes

Tel: (11) 2847.4567, WhatsApp: (11) 99320-0068

Email: reporterdofuturo@obore.com

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.