Em coletiva, pesquisador defende necessidade de investimentos na soberania digital do Brasil
No último sábado, 11, em encontro com a 16ª turma do “Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter”, o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, coordenador do Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC, falou sobre questões que envolvem o mundo digital e a política de regulação das grandes plataformas de dados. “A produção de conhecimento sobre a Inteligência Artificial (IA) não está dentro da academia, e sim concentrada nas mãos de grandes corporações. Daí a necessidade de criar infraestruturas soberanas de armazenamento de dados dentro do Brasil”, defende o convidado, autor de obras de referência no tema, como Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais (Edições SESC SP, 2017); Software Livre: a luta pela Liberdade do Conhecimento (Editora Fundação Perseu Abramo, 2004) e Exclusão Digital: a miséria na era da informação (Editora Fundação Perseu Abramo, 2001). Ligado ao Repórter do Futuro, o curso é realizado pela OBORÉ em parceria com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal e tem apoio da Abraji.
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Estudantes do 16º módulo “Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter” receberam no último sábado, 11, o sociólogo Sérgio Amadeu, coordenador do Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC - LabLivre. O encontro aconteceu na Câmara Municipal de São Paulo.
16ª turma durante encontro com Sérgio Amadeu da Silveira. Foto: Thaís Manhães.
Ao longo da palestra Sérgio Amadeu observou que, em geral, as pessoas não costumam discutir tecnologia como fazem com temas como esporte, culinária, jardinagem. “Elas não colocam a tecnologia no contexto social; apenas consomem tecnologia como se o fato de termos um celular não implicasse em transformações profundas nas relações sociais e de trabalho”, destaca o sociólogo, autor de obras de referência no tema, como Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais (Edições SESC SP, 2017); Software Livre: a luta pela Liberdade do Conhecimento (Editora Fundação Perseu Abramo, 2004) e Exclusão Digital: a miséria na era da informação (Editora Fundação Perseu Abramo, 2001).
Presidente do Instituto Nacional de Tecnologia de Informação, órgão ligado à Presidência da República, em 2003, Amadeu integrou o Comitê Gestor da Internet no Brasil em dois mandatos (2003-2005 e 2017-2020). Também coordenou o Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo na gestão Marta Suplicy ( 2001-2002), onde criou o projeto Telecentros-SP.
Para Amadeu, a Inteligência Artificial (AI) realmente existente ocupa lugar central na atual Divisão internacional do Trabalho - nome dado à organização do espaço econômico mundial caracterizada pela divisão da produção e dos serviços entre os países e que tem como base a especialização produtiva das economias nacionais e a distribuição desigual de recursos entre os territórios. Segundo o pesquisador, essa lógica dita qual tipo de produção cada sociedade é responsável, sendo que as mais importantes e lucrativas estão concentradas em países ricos, sobretudo nas mãos de grandes corporações, conhecidas como Big Techs, e cuja maioria está localizada no Vale do Silício, nos EUA.
Amadeu alerta para o perigo da privatização do conhecimento. “Em 2022, pesquisas da Universidade de Stanford, EUA, mostram que 32 modelos de aprendizagem de máquinas (machine learning) foram produzidos por Big Techs, em detrimento de apenas 3 produzidas por universidades. Isso significa que a produção de conhecimento sobre a IA não está dentro da academia, e sim concentrada nas mãos de grandes corporações”.
“O Brasil não possui nenhum modelo de machine learning, por isso é considerado apenas usuário e provedor de dados para treinar os modelos criados pelas Big Techs”. Esta é uma preocupação, segundo Amadeu, já que o Brasil deveria criar infraestruturas soberanas de armazenamento destes dados dentro do país. Hoje, nossos dados estão armazenados em provedores das empresas estrangeiras e concentradas, sobretudo, nos EUA.
Após a palestra, Sérgio Amadeu participou de coletiva de imprensa e “quebra-queixo” - dinâmicas pensadas para que os futuros repórteres experienciem o ofício e tenham informações consistente para produção dos textos, que são semanalmente entregues à coordenação do curso para avaliação e devidas orientações.
Sobre o curso
Na metodologia especialmente desenvolvida para este projeto de formação, os estudantes dedicam-se a pesquisa prévia sobre o entrevistado e são estimulados a produzir uma peça jornalística a cada encontro. Também recebem orientações por meio de atendimentos individuais prestados por jornalistas experientes que integram a coordenação do projeto.
O módulo propõe ainda a realização de uma reportagem de fôlego sobre um ou mais temas discutidos ao longo do curso e produzida em duplas. Trata-se da “Operação Ponto Final”, cuja audição pública acontece no encerramento das atividades do curso.
O Repórter do Futuro conquistou horário permanente na programação da Rede Câmara de São Paulo. Já em sua segunda temporada, é um espaço de veiculação das peças desenvolvidas nos diversos módulos do projeto ao longo do ano. Assista aqui o que já foi ao ar. As peças produzidas neste curso integrarão a terceira temporada do programa, que tem previsão de ir ao ar no segundo semestre deste ano.
O módulo deste ano integra as atividades comemorativas dos 30 anos do Projeto Repórter do Futuro e tem o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji; Escola da Cidade - EC; Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo - IEA/USP; Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais – IPFD e Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC – LabLivre / UFABC. A coordenação pedagógica desta edição é dos jornalistas Ronald Sclavi e Sergio Gomes. Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.
Veja o que já aconteceu neste módulo:
Encontro de Confraternização e Seleção
Bruno Paes Manso profere aula pública inaugural do 16º curso Descobrir São Paulo
Repórter do Futuro: florestas urbanas é tema do encontro deste sábado, 27
O bom jornalismo também está desafiado a pensar cidades mais saudáveis
Sábado tem bate-papo sobre como construir uma boa reportagem
“Somos contadores de estórias” diz Jorge Araújo em bate-papo sobre práticas no jornalismo
Inteligência Artificial é tema do encontro deste sábado, 11, no Repórter do Futuro
Próximos encontros:
18/5/24 | CONFERÊNCIA DE IMPRENSA / ENTREVISTA COLETIVA Tema 4 | Saúde em tempos de globalização virótica. Gonzalo Vecina, médico sanitarista. Docente da Faculdade de Saúde Pública (USP) e da EAESP (FGV). Foi Secretário da Saúde de SP (2003-2004) e primeiro diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (Anvisa), entre 1999 e 2003.
15/6/24 - ENCONTRO DE AVALIAÇÃO E ENCERRAMENTO Feira de Amostras da Operação Ponto Final
SERVIÇO PROJETO REPÓRTER DO FUTURO 2024 16º módulo ‘Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter’
- Datas: 20 de abril a 15 de junho, aos sábados, das 10h às 13h, na Câmara Municipal de São Paulo
- Modalidade: presencial.
- Carga horária: 84 horas, sendo 24h/aula de atividades presenciais + 12h de leituras + 48h de atividades práticas de produção de textos e de reportagens.
- Critério de certificação: certificado concedido apenas aos que obtiverem presença em 100% dos encontros, entrega de 4 textos produzidos a partir das 4 palestras/entrevistas coletivas programadas e entrega da reportagem da Operação Ponto Final feita em dupla.
Realização:
OBORÉ e Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo
Apoio:
- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji - Escola da Cidade
- EC - Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo
- IEA/USP - Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais – IPFD.
- Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC – LabLivre / UFABC
Mais informações:
reporterdofuturo@obore.com
Telefone: (11) 2847.4567
Whatsapp: (11) 99320.0068.
www.obore.com
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Por Fábia Medeiros e edição de Ana Luisa Zaniboni Gomes.