09/03/2021

Estudantes no Café sem Pauta: O que eles têm a dizer sobre a atividade?

Ruam Oliveira | OBORÉ Projetos Especiais

Nem só de jornalistas com anos de experiência vive o Café sem Pauta. A reunião semanal promovida pela OBORÉ para falar sobre o jornalismo e questões do cotidiano também é espaço para reflexões e opiniões de futuros e jovens repórteres.

A gênese do Café sem Pauta, de fato, começou no âmbito estudantil, integrando as atividades do módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, do Projeto Repórter do Futuro, que trata de pautas sobre a cidade.

Antes de cada entrevista coletiva, os estudantes e coordenadores reúnem-se em um esquenta para compartilhar ideias de pautas, possíveis perguntas e outras sugestões. Mas, ao final do módulo de 2019, os participantes reivindicaram continuar os encontros aos sábados pela manhã. A OBORÉ estendeu o convite a todos os interessados em papear. Assim nasceu o Café sem Pauta.

Nessa entrevista, conversamos com três estudantes que participam assiduamente da atividade para entender como vêem essa oportunidade de trocar experiências e de falar sobre a profissão.

Como tem sido para você participar do Café sem Pauta?

Cassiane Lopes, 7º semestre de jornalismo, UNIP: É uma experiência muito boa, participo desde que começou no meio do ano passado. São encontros que valem como aulas da prática jornalística, sem contar que debatemos pautas e aprendemos profundamente sobre cenários jornalísticos. Acho que não teríamos essa oportunidade se não fosse pelo Café… Gosto bastante por poder conhecer jornalistas experientes e prestigiados e também figuras importantes na sociedade. Em um Café sem Pauta, por exemplo, tivemos o prazer de receber o Padre Júlio Lancellotti e pude fazer uma pergunta a ele, foi uma experiência sensacional.

Renan Honorato, 5º semestre de jornalismo na Anhembi Morumbi: Tem sido ótimo. Tenho entrado em contato com muitos jornalistas que não teria outro jeito de conversar ou chegar neles, sabe? Tem trocas que acontecem no Café que são únicas. Eu fico emocionado com tantas delas, como os relatos da Mara Régia e da Marilu Cabañas. Eu gosto muito, aprendi a gostar de acordar cedo para participar, inclusive.

Camila Araújo, 8º semestre de jornalismo na Unesp Bauru: Tem sido uma experiência rica e única, a de estar nesse espaço cheio de pessoas que dividem essa paixão pelo jornalismo, principalmente se considerarmos que muitas pessoas dentro da própria universidade tem uma descrença em relação à profissão. E também estar num espaço com gente que tem uma bagagem, de histórias mesmo, que estiveram presentes em momentos importantes, olhar para eles de forma igual e respeitosa e eles retribuírem da mesma maneira.


O que você destacaria de melhor nessa atividade?

Cassiane Lopes: Os estímulos que recebemos para sermos mais ativos, tanto do Serjão quanto de outros jornalistas e professores que participam. Somos instigados a nos movimentar, a ter uma maior atuação, enquanto jovens jornalistas, na democracia brasileira. Por exemplo, foi a partir de uma provocação de Sérgio Gomes que criei o grupo no WhatsApp que viria a ser a UNICAJor (União de Centros Acadêmicos de Jornalismo no Brasil). A UNICAJor ainda está começando, mapeando centros acadêmicos e unindo forças de universitários de jornalismo, mas nasceu em uma reunião do Café sem Pauta!

Renan Honorato: O que eu destaco é a troca que existe entre as pessoas. Eu particularmente não sou muito de falar. Querendo ou não, estar no meio dessas pessoas todas te deixa um pouco intimidado. Como que eu vou falar com Aldo Quiroga, Mara Régia? Eu, um simples estudante… Então às vezes eu fico muito impactado e receoso de falar. Porém, eu destaco como principal essa troca que existe, de pessoas que se propõem a mostrar suas ideias, eu acho fundamental. Se eu pudesse colocar mais alguma coisa seriam as atividades práticas, o resultado dessa teoria que a gente conversa lá.

Camila Araújo: Destacaria o encontro em si com pessoas que entendem a importância da profissão e [que entendem] que o jornalismo é capaz de influenciar a sociedade e em muitos momentos fizeram isso. É muito bonito para nós como jovens jornalistas ter contato com gente tão experiente, coisa que talvez em outro contexto não seria possível.

Como estudante, de que forma você enxerga essa interação entre diferentes gerações?

Cassiane Lopes: De forma muito rica, é incrível ter a oportunidade de troca entre jornalistas tão experientes. Destaco aqui a Jornalista Marilu Cabañas que tem mais 40 anos no jornalismo, é uma jornalista de muita sensibilidade e prestígio. Ela nos ajuda tanto, é sempre solícita conosco. Uma vez no Café Sem Pauta ela estava contando da reportagem que estava fazendo sobre as Queimadas no Pantanal e eu estava fazendo um VT para o Jornal da Faculdade sobre essa mesma pauta, então pedi a ela apenas uma fonte de lá, ela falou que me enviaria sim… De repente, recebo cerca de 10 fontes maravilhosas e importantíssimas. Nossa foi incrível, eu não estava esperando por tudo aquilo, serei eternamente grata!

Renan Honorato: Acho a interação ótima. Na faculdade a gente não aprende a ser jornalista, aprendemos a conhecer a área, as teorias e essas coisas. No Café, as pressões, no bom sentido, vindas do Serjão e de outras pessoas instigam a gente a sair da nossa zona de conforto e eu acho ótimo. Ao mesmo tempo que a gente precisa ouvir essas palavras, com eles depositando a fé na gente, sentimos que precisamos mostrar e dar sentido a essa confiança que eles têm na gente.

Camila Araújo: Em relação à minha situação de estudante, acho que me mantem motivada. Nesse contexto de precarização do ensino e da universidade ser um espaço que mais desmotiva a fazer reportagem e seguir na profissão, sempre que estou no café eu fico motivada, me dá um gás em continuar e persistir nesse ofício tão importante. Esse encontro de gerações me faz perceber isso.


Como você acha que esses encontros vão ajudar na sua carreira?

Cassiane Lopes: Já tem me ajudado até, levarei essas lições para a vida… depois que eu comecei a participar eu percebi muitas coisas que antes não percebia, mudou a minha visão sobre o jornalismo, minha perspectiva de como eu quero estar dentro do jornalismo. Agora, eu tenho muito mais claro qual é o papel do jornalismo, qual função quero exercer no jornalismo e como quero exercer também. Aprendi também coisas que não devo e nem quero fazer, tanto como profissional quanto como pessoa. É essencial ter essa oportunidade agora enquanto ainda sou estudante, porque agora é a hora de aprender com erros!

Renan Honorato: Vão me ajudar muito. Não falo só de networking ou contatos que a gente vai fazendo, as amizades que vamos fazendo e que podem nos ajudar no futuro. Mas falo principalmente da experiência. Como dito antes, o Café sem Pauta causa um desconforto nos estudantes porque faz com que a gente queira "fazer por onde". Me motiva a ir atrás da notícia, a descobrir novas pautas e fazer na prática o que a gente discute lá. De todas as amizades que estão surgindo e oportunidades de troca profissional que nasceram desses encontros, esse impulso em sair da zona de conforto é algo muito positivo.

Camila Araújo: Acho que já estão me ajudando, não é algo que vai acontecer lá no futuro. Já me ajudam na questão de persistir numa profissão que eu considero importante e que muitas vezes ficamos desmotivados, nos sentimos desvalorizados por conta do contexto negacionista e de ataques ao jornalismo. Nesse sentido, acho que me ajudam a persistir, não desistir e melhorar cada vez mais o meu trabalho.

Leia a Entrevista com o professor Ronald Sclavi

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