Feijoada dos Amigos na Praça Vladimir Herzog celebra aniversariantes do mês
Ao som de Ana Deriggi e Mario Manga, o “Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer” celebrou os aniversariantes de setembro, dentre eles Dom Paulo Evaristo Arns, um dos principais nomes da luta pelos Direitos Humanos no Brasil. O evento mensal é organizado pelo Coletivo Cultural Associação de Amigos da Praça Vladimir Herzog.
Por Fernanda Franco, Renan Honorato e Thaís Manhães.
Neste domingo, 28, o evento mensal celebrou os nascidos sob o signo de Virgem com feijoada e arroz doce de sobremesa. No palco, Ana Deriggi e Mario Manga apresentaram o show “O Bom e Velho”, com repertório que abraçou os clássicos do rock nacional e internacional da década de 60 e 70.

Participantes da edição de setembro do Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer posam para foto na Escadaria da Liberdade - Praça Memorial Vladimir Herzog. Foto: Jorge Araújo.
A festa homenageou os aniversariantes do mês que têm uma trajetória ligada à luta pelos Direitos Humanos, à liberdade de expressão e a outros valores fundamentais da Democracia. A lista inclui: Dom Paulo Evaristo Arns, Paulo Markun, Ricardo de Moraes Monteiro, Fernando Gomes, Sergio Gomes e Celso Napolitano.
Dom Paulo Evaristo Arns, nascido em 14 de setembro de 1921, foi um dos personagens lembrados durante o evento. Conhecido como “Cardeal da Esperança”, ele, ao lado do rabino Henry Sobel e do pastor presbiteriano Jayme Wright, conduziu em 31 de outubro de 1975 o histórico Ato Ecumênico na Catedral da Sé, em memória ao jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura nas dependências do DOI-CODI em 25 de outubro daquele ano.
O Cardápio
Como de costume, a caipirinha de boas-vindas abre todos os eventos na Praça, sendo o aperitivo para o prato principal, que nesta edição foi a Feijoada dos Amigos. José Carlos e Paulo Cseh preparam a bebida feita com a cachaça especial da Serra Negra oferecida por Celso Napolitano, presidente do SinproSP.
Na sequência, integrantes do Coletivo Cultural Associação de Amigos da Praça Vladimir Herzog organizaram a mesa para o almoço. Sergio Gomes, Ronald Sclavi, Aldo Quiroga, Paulinho Fluxos, Fernando Gomes e Heidy Vargas prepararam duas grandes panelas de feijão, encorpadas com costela, lombo, linguiça e bacon, que foram servidas com arroz, couve, laranja, farofa e molhinho de pimenta.
As travessas ficaram à disposição de todos que quiseram se servir, com valor simbólico de 30 reais, revertidos para a manutenção mensal do evento. Para aqueles que não podiam pagar pelo prato, nada foi cobrado.
A comensalidade, conceito de Leonardo Boff que entende o ato de partilhar a comida como um momento de trocas e convivência, é um dos pilares do evento realizado na praça todo último domingo do mês. Por isso, o lema do almoço é: “Quem pode paga. Que não pode pega”.
O Arroz Doce foi a grande novidade desta edição, preparado em memória de Dona Adelaide, mãe de Sergio e Fernando Gomes, aniversariantes do mês e integrantes do Coletivo. O doce cumpriu a função de bolo de aniversário, contemplando os Virginianos listados acima, e de outros que passavam pela Praça.
A Música: ocupar para não esquecer
A programação musical proposta por Oswaldo Colibri Vitta, curador musical do evento, ficou por conta da dupla Ana Deriggi e Mario Manga que apresentaram o show “O Bom e Velho”. O repertório trouxe sucessos de Beatles, Secos e Molhados, Mutantes e Rolling Stones.
“Eu adoro tocar para as pessoas, sem um ingresso, necessariamente. Eu gosto de ver todas as pessoas juntas, compartilhar a música. Pra mim isso é o que faz sentido”, disse Ana Deriggi.
Para Mario Manga, é importante manter espaços de memória vivos e ocupados, como esta Praça, para que a sociedade nunca se esqueça do que aconteceu durante a ditadura militar.
“É importante manter essa memória, porque muita gente não sabe o que foi [a ditadura militar]. O negócio era feio, não se tinha liberdade, você podia falar uma coisa e no outro dia desaparecia”, lembrou Manga.
Para a jornalista e professora Heidy Vargas, o evento cumpre uma função social relevante ao estimular a ocupação dos espaços públicos.
“São Paulo tem a tendência de ser um grande escritório, onde as pessoas trabalham e voltam para suas casas. Existem poucos momentos de confraternização [como esse] na cidade”, afirmou a colaboradora do Coletivo.
O professor de História Eduardo Magrão, assessor da vereadora Renata Falzoni (PSB), também destacou a importância de estar presente em eventos como este.
“A principal percepção que eu tenho é a valorização e resgate da memória de todos esses jornalistas que lutaram contra a ditadura, e que estão aqui representados hoje na Praça Vladimir Herzog. Como também toda a continuação e junção da música com a arte, cultura e com a juventude que está vindo e se apropriando e apoderando também deste espaço e dessa memória”, explicou Magrão.
Assista a reportagem produzida por Camilo Mota e Fernanda Franco, integrantes do Canal da Praça.
Veja as fotos desta edição aqui.
Outubro, um mês especial
O próximo Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer está marcado para o último domingo de outubro, dia 26, e será mais que especial. Neste dia será inaugurada a primeira etapa do Calçadão do Reconhecimento, intervenção que levará à praça mais de 600 tijolos, cada um gravado com o nome dos jornalistas vencedores do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
No dia anterior, 25 de outubro, acontece o ato inter-religioso em memória de Vladimir Herzog e dos familiares dos desaparecidos politicos na Catedral da Sé, em São Paulo. O evento marca os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar.
Para fechar o mês de memória, mais dois eventos estão programados para o dia 27 de outubro. Às 14h acontece a Roda de Conversa com os ganhadores do 47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog. E às 20h começa a Solenidade de Premiação. As duas atividades acontecem no Tucarena (Rua Bartira, 347, Perdizes, São Paulo).
Lugar de encontros e reencontros
Desde 2022, em todo último domingo do mês, o evento “Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer” acontece na Praça Memorial por iniciativa do Coletivo Cultural Associação de Amigos da Praça Vladimir Herzog.
Em agosto de 2025, a Câmara Municipal aprovou o Projeto de Lei 397/2023, de autoria do vereador Eliseu Gabriel (PSB), que inclui o evento no calendário oficial da cidade de São Paulo. A proposta agora aguarda sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Vale lembrar que a Praça é reconhecida como Ponto de Memória pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) e como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura.
Veja a lista das entidades que compõem o Coletivo Cultural Associação de Amigos da Praça Vladimir Herzog:
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Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo
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Banca Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog
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Câmara Municipal de São Paulo
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Canal da Praça
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Centro Acadêmico Vladimir Herzog | Cásper Líbero
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CÉU – Museu de Arte a Céu Aberto
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Coletivo Café Sem Pauta
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Coletivo Paulo Freire Zona Norte
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Colibri & Associados Comunicações
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Constructo
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Escola da Cidade
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FotosPúblicas.com
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Instituto Elifas Andreato
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Instituto Equipe Educação, Cultura e Cidadania
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Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais
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Instituto Premier
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Instituto Vladimir Herzog
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OBORÉ
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Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania
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Sindicato dos Advogados e Advogadas do Estado de São Paulo (SASP)
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Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP)
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Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)
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Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP)
Como chegar: Rua Santo Antônio, 33, Bela Vista – São Paulo – SP, atrás da Câmara Municipal, em frente ao Terminal Bandeira.
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Relembre no portfólio algumas edições do Todo Mundo Tem Que Falar, Cantar e Comer.
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