10/11/2020

Jornalismo nos tempos de pandemia


Roda de conversa: diálogo que atravessa o espaço virtual

A 9ª Roda de Conversa com os vencedores da 42ª edição do Prêmio, realizada no dia 24 de outubro, teve sua dinâmica drasticamente alterada, uma vez que o isolamento impediu o contato direto entre os jornalistas, mediadores e demais ouvintes. A disposição em roda mudou, assim como as maneiras de interação entre os participantes, de forma a serem contemplados pela ferramenta disponível neste momento – a internet. O seu objetivo, porém, permaneceu o mesmo e foi cumprido: “que os jornalistas troquem experiências e conversem sobre os bastidores da realização desses trabalhos premiados, reconhecidos, e que seja uma ferramenta para a transmissão desses conhecimentos”, conforme pontuou o jornalista Aldo Quiroga, um dos mediadores da Roda. Ele também destacou alto nível das reportagens premiadas neste ano, e “isso é uma resposta a esses tempos” de ataque à Imprensa e à democracia.

Além dos bastidores e desafios vividos pelas equipes de cada um dos trabalhos vencedores, a Roda de Conversa levantou o debate sobre os ataques que a Imprensa vem sofrendo por parte do governo federal e a saúde mental dos jornalistas em meio à pandemia.

Juliana Dantas, que recebeu menção honrosa pela produção “Confinamento: 3 meses depois”, na categoria Produção jornalística em áudio, afirmou que “para o jornalista no Brasil de 2020, a Covid, que deveria ser o foco maior de preocupação, é muito potente, mas consegue ser secundária em relação ao que a gente sofre ao cobrir uma pandemia neste país, com este governo que não se justifica”.

Ela lembrou da posição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante do número de mortos pelo coronavírus, ao afirmar “não ser coveiro”. “Somos um grupo aqui de resistências múltiplas e diversas. Resistência é a palavra desse prêmio, desse grupo e deste ano”, reforçou.

“Este prêmio e esta roda são um termômetro do nosso tempo. Essa necropolítica instalada, que é um projeto, demanda do jornalismo uma resposta. E o que é encantador, ouvir vocês falarem, é perceber o quanto o jornalismo, neste ano, foi capaz de responder e se colocar de pé diante desse tempo difícil”, ressaltou Aldo Quiroga. A atividade foi encerrada com o reforço da importância do jornalismo nos tempos atuais: “Nós fazemos parte e somos responsáveis por esse esforço civilizatório que precisa responder e resistir ao obscurantismo”, pontuou o jornalista, que integra a equipe de coordenação da Roda deste a sua primeira edição, em 2012.

Cerimônia de premiação: apesar de muitos desafios, o jornalismo resiste!

Após cumprir o objetivo inicial de transmitir e relatar experiências durante a roda de conversa, era hora de celebrar os vencedores deste ano. Novamente, em formato virtual, no domingo (25), foi realizada a cerimônia de premiação do 42º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Com quase 3 mil profissionais de jornalismo envolvidos em 1059 produções (22 estados, além do Distrito Federal), 36 jurados (o Júri de Seleção) foram responsáveis por determinar as peças vencedoras. Ana Luisa Gomes, curadora do evento, iniciou a cerimônia agradecendo a todos os participantes, além de toda a equipe responsável pela premiação. Juca Kfouri, mestre de cerimônia, aproveitou a oportunidade para demonstrar que estava feliz em poder estar presente, apesar do sistema remoto: “É uma alegria estar aqui com vocês, mesmo desse jeito, nesse sistema remoto. Estamos fazendo aquilo que é possível dentro da pandemia e estamos fazendo aquilo que as autoridades sanitárias recomendam, que a Organização Mundial da Saúde recomenda: distanciamento social”, enfatiza Kfouri.

Ivo Herzog, diretor do Instituto Vladimir Herzog, comentou sobre a dificuldade de planejar e colocar em prática uma premiação nas atuais circunstâncias, mas deixando claro que dificuldades também existiam anteriormente, como com o desgoverno enfrentado desde a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro. “No ano passado a gente já estava muito assustado com o governo que vinha se colocando e hoje estamos vivendo muito do resultado desse desgoverno, dessa coisa que está aí, com mais de 150 mil mortos”, comenta Ivo. Apesar disso, para ele, o método virtual chegou para ficar e pode trazer, inclusive, novas formas de democratização.

Mesmo em um momento de celebração, a Comissão Organizadora do Prêmio também lembrou daqueles que se foram devido ao coronavírus, como o maestro Martinho Lutero, criador e regente titular dos 50 anos do Coro Luther King, que faleceu neste ano, vítima do vírus. Paulo Jeronimo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), lembrou das mais de 150 mil vítimas (atualmente, mais de 160 mil) do coronavírus no Brasil, que morreram devido ao resultado visível de “um governo que nega as evidências científicas e que adota uma postura desumana frente à tragédia”.

Através das categorias de Arte, Fotografia, Produção Jornalística em áudio, Produção em vídeo, Produção em Multimídia e Produção em texto, além do Prêmio Destaque Vladimir Herzog Continuado, o evento continuou com o desfile das obras premiadas e você pode conferir esses momentos aqui. Os temas foram diversos, mas com o contexto pandêmico vivenciado este ano, muitas obras tiveram o vírus como foco. As consequências em torno de políticas sanitárias que se mostraram desastrosas também apareceram em destaque.

Como tradição, a Comissão Organizadora do Prêmio indicou jornalistas ou personalidades que tiveram atuação destacada nos serviços prestados às causas da Democracia, Paz, Justiça e Direitos Humanos para receber o Prêmio Especial Vladimir Herzog e neste ano, os homenageados foram Laerte Coutinho, Sueli Carneiro e Luiz Gama (in memoriam).

O encerramento da cerimônia ficou a cargo da Orquestra de Câmara da ECA/USP (OCAM), que apresentou a peça “Espero que nomes consigam tocar!”, inspirada na canção “Inumeráveis” de Bráulio Bessa e Chico César e que serve como homenagem às vítimas da covid-19. Finalizar um evento tão importante com tal expressão artística demonstra que não apenas o jornalismo resiste, mas também a luta pela democracia, que apesar de todas as dificuldades, continua enfrentando diversos tipos de vírus: de origem biológica, tal como o coronavírus, ou de origem racional, tal como o obscurantismo defendido por figuras presidenciais.

As atividades que integram a 42ª edição do Prêmio Vladimir Herzog, assim como o acervo das peças premiadas, podem ser acessadas no site www.premiovladimirherzog.org

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