Mino Carta e Caco Barcellos recebem Troféu Audálio Dantas em 6 de junho
Caco Barcellos com toda a equipe do Profissão Repórter desses 20 anos, ao lado do veterano Mino Carta, serão os jornalistas homenageados da sexta edição do Troféu Audálio Dantas: Indignação, Coragem e Esperança. A cerimônia solene acontece no próximo dia 6 de junho, às 19 horas, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.
“O júri é feito por consulta pública que se desenvolve ao longo do ano inteiro e aponta para jornalistas que sejam capazes de concentrar, nas suas qualidades, ao menos três características destacadas nos escritos de Santo Agostinho: indignação, coragem e esperança - a indignação pelo que está errado no mundo, a coragem para enfrentar o bicho e a esperança de que tudo pode mudar para melhor”, explicou Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e um dos curadores do Prêmio, ao lado da família Audálio Dantas.
A jornalista Vanira Kunc Dantas, viúva de Audálio, diz que o Troféu é um reconhecimento da família, da categoria dos jornalistas, do corpo estudantil e da sociedade pela grande contribuição desses profissionais ao jornalismo brasileiro.
“O Mino Carta e o Caco Barcellos, cada um da sua forma, buscam honrar as boas práticas do jornalismo e é isso que a gente busca homenagear. Entregar o Troféu Audálio Dantas a eles seria uma honra para o Audálio, que em particular era amigo dos dois, e ele certamente vai se sentir muito lisonjeado onde quer que ele esteja”, afirmou a jornalista que também assina a curadoria do Prêmio.
Os homenageados deste ano
Mino Carta
Mino Carta é um dos nomes mais importantes no jornalismo e na cultura brasileira. Ele é conhecido por fundar a revista CartaCapital, que ainda existe e é uma referência para quem busca aprofundamento em temas sociais, políticos e econômicos. Foto: Reprodução CartaCapital.
Mino Carta é um grande nome da imprensa brasileira. Nascido em Gênova, na Itália, Mino chegou ao Brasil ainda criança. Apesar de ter estudado direito na Universidade de São Paulo, ele seguiu carreira no jornalismo e na produção editorial, sendo o fundador e diretor da Revista CartaCapital.
Mino Carta tem longa carreira no mercado editorial, tendo participado da fundação da Revista Quatro Rodas e da Revista Veja, que implementou no Brasil a publicação semanal, seguindo o modelo norte-americano da Time Magazine. Na década de 70 e 90, respectivamente, fundou a Revista Isto É, e a CartaCapital, duas publicações com linha editorial crítica à imprensa tradicional.
Mino Carta sempre esteve comprometido com a ética e com o interesse público, muitas vezes contrariando as elites econômicas. Além de jornalista e empresário do mercado editorial, Mino Carta é pintor e escritor. “O Castelo de Âmbar (2000)”, “A Sombra do Silêncio” (2003) e “O Brasil” (2013), por exemplo, são livros por ele publicados.
Caco Barcellos e equipe do Profissão Repórter
Com cinco décadas de carreira como repórter, Caco foi correspondente internacional e autor de best-sellers que marcaram a história da profissão. É responsável pela criação de técnicas de investigação inovadoras e métodos de apuração que ressignificaram o telejornalismo. Foto: Abraji.
Cláudio Barcelos de Barcellos, 75, o Caco Barcellos, é um dos jornalistas mais conhecidos no Brasil. Seu trabalho está associado ao jornalismo investigativo de denúncias das injustiças sociais, violência policial e violações dos direitos humanos.
Antes de se destacar nacionalmente, Caco iniciou sua carreira como repórter em Porto Alegre, sua cidade natal, no periódico Folha da Manhã, do grupo gaúcho Caldas Júnior. Por volta de 1970 foi um dos fundadores da revista Versus, um veículo da imprensa alternativa, que trazia grandes reportagens sobre a América Latina. Caco também contribuiu para a criação da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. Já escreveu para a Veja e Isto É, tendo passado também por outros destacados jornais do país.
Ao longo dos anos construiu uma carreira sólida na Rede Globo, onde atua há quase 40 anos. Foi correspondente internacional e cobriu conflitos em países como Nicarágua, Angola e Iraque. Desde 2006, é apresentador e diretor do Profissão Repórter, que tem como marca a cobertura humanizada e aprofundada de temas sociais com uma equipe jovem de jornalistas.
Caco Barcellos é autor de diversos livros-reportagem de grande impacto, por exemplo, o “Rota 66: a história da polícia que mata” (1992), que revelou execuções praticadas por policiais em São Paulo, e “Abusado: o dono do Morro Dona Marta” (2003), que acompanha a vida de um líder do tráfico no Rio de Janeiro. Ao longo de sua carreira, já recebeu diversos prêmios, como o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o Jabuti e o Esso.
A inspiração
A ideia do troféu surgiu em 2016 com o nome “Indignação, Coragem e Esperança” por iniciativa conjunta da OBORÉ, Agência Sindical e Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé para homenagear Audálio Dantas em vida. A primeira e única edição do prêmio foi entregue ao próprio Audálio em 8 de julho de 2017, dia do seu aniversário de 88 anos.
O futuro tem um coração antigo: registro da cerimônia de entrega do troféu a Audálio Dantas no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), em 8 de julho de 2017. Foto: Cadu Bazilevski / SJSP.
Depois de seu falecimento, em 30 de maio de 2018, o Troféu foi rebatizado com seu nome e passou a ser entregue em junho, na semana do Dia Nacional da Liberdade de Imprensa.
Sua primeira edição foi em plena pandemia, 2020, ano em que a jornalista Patrícia Campos Mello foi homenageada. Em 2021, o Troféu foi entregue aos jornalistas Jamil Chade, Luis Nassif e Mara Régia Di Perna. Em 2022, os homenageados foram Julian Assange, Eliane Brum e os jornalistas do Consórcio de Veículos de Imprensa que atuaram na cobertura da pandemia. Em 2023, a jornalista Juliana Dal Piva e os jornalistas René Silva, Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Leonardo Sakamoto e Valmir Salaro foram contemplados com a estatueta do São Jorge e o Dragão.
Ano passado, Ricardo Kotscho foi o vencedor. Em entrevista para OBORÉ, o jornalista e amigo próximo de Audálio Dantas reconheceu e enfatizou a importância do Troféu. “O grande modelo para mim foi o Audálio, grande mestre que ajudou a formar gerações de jornalistas, não só no trabalho profissional, mas pela importância política que ele teve num momento crucial na vida brasileira, que foi um divisor de águas entre ditadura e Democracia”, disse Kotscho. Assista a matéria na íntegra sobre a quarta edição.
O troféu
Fruto do talentoso trabalho do artista plástico Roger Matua, a obra foi criada a partir de uma ilustração da Laerte para a 1ª edição do Cadernos de Jornalismo do Projeto Repórter do Futuro, da OBORÉ. A tradicional imagem de São Jorge enfrentando o dragão foi ressignificada pelo traço da artista: ao invés de lança, o santo empunha um microfone e em seu capacete está uma câmera. Foto: Jorge Araújo.
Desde a sua criação, o Troféu Audálio Dantas - Indignação, Coragem e Esperança tem se consolidado uma honraria de resistência e valorização do jornalismo em defesa da democracia, do direito à informação e da liberdade de expressão.
Um dos objetivos do Troféu é dar um norte aos jornalistas que buscam cobrir temas que muitas vezes grandes veículos não têm interesse em jogar luz, contou Vanira Kunc, jornalista e víuva de Audálio, referindo-se aos interesses empresariais.
“Eu acho que o Troféu Audálio Dantas, que foi o primeiro, o que ele mesmo recebeu, que a partir daí passou a se chamar Troféu Audálio Dantas: Indignação, Coragem e Esperança, traz a importância dos jornalistas olharem na direção do bom jornalismo. Eu considero um farol”, afirmou Vanira.
Audálio Dantas, o patrono
Conhecido como o repórter que revelou Carolina Maria de Jesus e seu Quarto de Despejo: diário de uma favelada, Audálio Dantas organizou, junto a defensores da democracia, o ato ecumênico em memória de Vladimir Herzog, ocorrido na Catedral da Sé, em 1975, após o assassinato do jornalista por agentes da ditadura, no DOI-Codi de São Paulo. À época, Audálio presidia o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.
Audálio iniciou sua carreira como fotógrafo na Folha de S. Paulo e passou pelos mais importantes veículos de comunicação do seu tempo. Integrou as equipes das revistas O Cruzeiro, Realidade, Veja e Quatro Rodas. É autor dos livros As Duas Guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira), Tempo de Reportagem (LeYa), A Infância de Ziraldo (Callis), O Menino Lula (Ediouro), A infância de Graciliano Ramos (Callis) e Repórteres (Senac-SP).
O Troféu Audálio Dantas - Indignação, Coragem e Esperança é uma realização da Família Audálio Dantas, OBORÉ / Projeto Repórter do Futuro, União Brasileira de Escritores (UBE) e Gabinete do Vereador Professor Eliseu Gabriel (PSB).
Serviço
Troféu Audálio Dantas - Indignação, Coragem e Esperança
Sexta-feira, 6 de junho de 2025, às 19 horas
Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo | Viaduto Jacareí 100