16/09/2021

O que o 11 de setembro diz sobre a cobertura jornalística de conflitos

O último dia 11 de setembro marcou duas efemérides: uma delas foi os 20 anos do atentado às torres gêmeas do World Trade Center, nos EUA, ato que foi estopim da chamada Guerra ao Terror que provocou a morte de centenas de pessoas e impôs um cenário de conflito em países como Afeganistão, Síria e Líbia.

A data também traz de volta à memória o golpe que depôs o presidente chileno Salvador Allende em 1973, ação que teve o apoio do governo norte americano e da CIA.

Essas duas situações, mesmo que ocorridas em tempos distintos, marcam o noticiário dos últimos tempos e trazem consigo um tema em comum que é a cobertura jornalística sobre conflitos armados e outras situações de violência. Muitos destes assuntos voltaram a aparecer devido ao retorno do Talibã ao comando de Cabul, capital do Afeganistão, após a saída das tropas militares dos EUA do país.

Saber reportar essas histórias requer preparação. O ano de 2021 marca também uma outra data: vinte anos de existência do módulo sobre cobertura de guerra do Projeto Repórter do Futuro, que teve o primeiro encontro neste sábado com a presença do chefe da Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para a Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Alexandre Formisano.

Passando pelo contexto de atuação do CICV, Formisano pontuou as principais esferas nas quais a instituição opera, reforçando três de seus principais pilares: independência, neutralidade e imparcialidade.
Ao se referir a estes três tópicos, especificamente, Formisano trata sobre uma postura de não envolvimento do CICV com as causas que geram os conflitos, colocando a organização vinculada apenas com a ajuda humanitária necessária em decorrência de tais conflitos.

"Que fique claro que a ajuda humanitária é neutra, nós focamos na ajuda das consequências e não das causas. Vocês nunca vão nos ouvir falar sobre algo de ordem política ou tema de construção de paz. O trabalho do CICV está focado nas consequências", pontuou o chefe de delegação.

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O jornalista e coordenador do módulo Aldo Quiroga pontuou que as datas também servem para que se observe criticamente como a cobertura tem sido feita em ambos os casos - tanto em relação aos ataques ao WTC, quanto ao golpe de 1973 no Chile. Quiroga destacou que grande parte do que tem sido produzido dá destaque às 3 mil vítimas que morreram nos prédios norte-americanos, fato importante de ser noticiado, porém há uma cobertura menor quando se pensa nas vítimas da guerra iniciada após os ataques aos EUA.

"Nesses dois marcos temos uma reflexão a fazer sobre o direito humanitário, entender essa questão é muito importante e fundamental. Trazer essa data à memória é muito mais do que resgatar essa história, necessária para que a gente não repita o mesmo erro, mas para que a gente faça uma leitura crítica do que está sendo feito [no jornalismo]".

O encontro também foi espaço para que os cerca de 50 estudantes colocassem suas expectativas e ideias sobre o curso e sobre o que planejam realizar profissionalmente no futuro. Muitas das falas reforçaram o caráter de lidar com os direitos humanos e a cobertura humanitária e a possibilidade de buscar esse caminho na companhia de outros colegas com desejo comum.

"Não precisa esperar o cenário ideal para aplicar os aprendizados. Não precisa esperar o dia que virar correspondente no Afeganistão, para usar o que aprenderam", disse o assessor de comunicação do CICV Diogo Alcântara, que também participou da atividade no sábado. Alcântara reforçou a necessidade de que, independentemente de estar diretamente envolvido na cobertura de um conflito ou apenas em uma redação, o objetivo de uma boa cobertura humanitária passa por colocar as vítimas desses conflitos no centro da discussão e da atenção.

Outro ponto, fundamental para Quiroga, é suscitar reflexões propositivas, que não fiquem apenas na notícia. "Crises da democracia, acirramentos internos exigem de quem se dedica ao jornalismo um olhar mais apurado. É fundamental apontar saídas e que a gente não morra na denúncia, mas que consiga explicar ao leitor e ouvinte qual é o caminho. Isso faz com que a sociedade seja não só bem informada, mas encontre elementos de saída", disse.

No próximo sábado, 18/9, a turma fará um encontro com o jurista especialista em Direito Internacional Humanitário, Tarciso dal Maso Jardim. O assunto será o direito aplicável nos conflitos armados.
Nestes vinte anos de trajetória, o módulo sobre cobertura de guerra do Projeto Repórter do Futuro já formou mais de 500 repórteres que hoje atuam em diferentes organizações pelo Brasil.

Confira a programação do curso

11/09 - O trabalho do CICV no Brasil e no mundo e suas principais preocupações humanitárias em 2021 – Chefe da Delegação Regional do CICV para a Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Alexandre Formisano.

18/09 - Introdução ao direito aplicável nos conflitos armados – Jurista especialista em Direito Internacional Humanitário, Tarciso dal Maso Jardim.

25/09 - Normas internacionais aplicáveis à função policial no uso da força e armas de fogo - Responsável Técnico do Programa com Forças Policiais e de Segurança do CICV, Paulo Roberto Oliveira.

02/10 - Volta ao mundo: o CICV em diferentes continentes - Oriente Médio.

09/10 - Volta ao mundo: o CICV em diferentes continentes - América Latina e África.

16/10 - Cobertura da imprensa brasileira de temas humanitários.

23/10 - Encerramento do curso: avaliação e diplomação dos estudantes.

Mais informações

OBORÉ – Projetos Especiais em Comunicações e Artes

Tel: (11) 2847.4567, WhatsApp: (11) 99320-0068

Email: reporterdofuturo@obore.com

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