06/02/2020

Pela 1ª vez, nomes de todos os ganhadores do Prêmio Herzog ganham espaço simbólico na Praça Memorial Vladimir Herzog

No domingo, 8 de dezembro, a Praça Memorial Vladimir Herzog recebeu a faixa que organiza em ordem alfabética todos os ganhadores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e uma placa assinada por 18 entidades representativas dos jornalistas na qual selam compromisso em defesa da profissão, da liberdade de expressão e do direito à informação.

As ações foram coordenadas pelo jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, coordenador geral do Projeto Repórter do Futuro e conselheiro do Instituto Vladimir Herzog. A intenção, além de ocupar aquele espaço, foi “marcar nele a importância do exercício do jornalismo de qualidade como um dos pilares da Democracia”, explica Sergio, ressaltando que foi a primeira vez que os nomes dos mais de mil ganhadores do prêmio foram compilados, unidos e apresentados publicamente. Mas o trabalho de levantamento apenas começou, diz Sérgio. “Há muitos pseudônimos e assinaturas de equipes incompletas que deverão ser recuperados com a ajuda dos próprios jornalistas”. A intenção é que a faixa seja transformada num mural permanente na parede principal da Praça, juntamente com as três obras do artista plástico Elifas Andreato, ali instaladas.

Rememorações

Mouzar Benedito, ganhador da primeira edição do Prêmio, em 1979, com uma série de reportagens sobre presos políticos e o cotidiano nas cadeias, esteve presente à confraternização e relembrou a sua história pessoal com a premiação. Ele conta que a ideia da pauta veio de uma visita ao um amigo. Para entrar na prisão, teve que passar por 7 grades e ser submetido à revista total. Porém, em plena ditadura militar e com vários conhecidos presos, ele, que temia ser barrado em suas visitas, não pôde assinar com seu verdadeiro nome. Aí surgiu o pseudônimo Resende Valadares Netto.

Mouzar revela a história do nome: “um amigo pensou em ‘Resende’ porque eu era mineiro de Nova Resende. Como mineiro é tudo fazedor de merda (risos), como o Benedito Valadares, colocamos ‘Valadares’. Depois veio o ‘Netto’, com dois t’s.” Já que ele não podia ter sua identidade revelada, quem recebeu o prêmio foi o editor do jornal onde as reportagens haviam sido publicadas, o extinto jornal alternativo Em Tempo.

Um dos ganhadores da 1ª edição do Prêmio Herzog, Mouzar Benedito esteve presente na comemoração do dia 8/12. A faixa de papel colada na praça marcou a primeira vez em que o nome oficial do autor se registrou oficialmente na história da premiação. Foto: Sérgio Decourt

Presentes em frente à faixa em homenagem aos ganhadores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. A edição de 2019, a 41ª, teve como premiados especiais os jornalistas Hermínio Sacchetta (in memoriam), Patrícia Campos Mello e Glenn Greenwald. Confira a lista completa de premiados aqui. Foto: Sérgio Decourt

Sonho coletivo

A Praça Memorial Vladimir Herzog, que fica próxima à estação Anhangabaú do metrô, foi idealizada pelo ex-presidente da Comissão Municipal da Verdade, Ítalo Cardoso. Foi inaugurada em 25 de outubro de 2013, 38 anos após o assassinato de Vlado pelas forças da Ditadura Militar. Durante o surgimento e execução do projeto, contou com o apoio e articulação de vários outros atores e entidades.

Hoje, conta com três esculturas de Elifas Andreato: um mosaico do Projeto Âncora (que pode ser visto logo acima da faixa), o troféu especial Vlado Vitorioso, idealizado em 2008 a pedido das ONU em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a mais recente, a réplica do troféu do prêmio.

Nesta última escultura, foi afixada, também naquele domingo, uma placa que traz em si o manifesto “Em Nome do Futuro”. Produzido e assinado por 18 entidades em ocasião do Dia do Jornalista deste ano (6 de abril), ela defende o compromisso com a democracia e a liberdade de expressão.

Apoiado pelos Centros Acadêmicos da ECA USP, Cásper Líbero e PUC SP, foi assinado por: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Associação dos Cartunistas do Brasil, Associação dos Correspondentes Estrangeiros, Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos, Associação Profissão Jornalista, Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo, Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, Centro de Estudos da Mídia Independente “Barão de Itararé”, Chapa ABI – Luta Pela Democracia/Representação São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Federação Nacional dos Jornalistas, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Instituto do Memorial de Artes Gráficas do Brasil, Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Projeto Repórter do Futuro/OBORÉ, Repórteres Sem Fronteiras, Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e Instituto Vladimir Herzog.

Da esquerda para a direita, Guto Godoy,Lorena Alves e Leo Lopes, representantes, respectivamente, do Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e Lupe Cotrim (ECA-USP) seguram placa a ser colada na Escultura do Troféu Prêmio Vladimir Herzog, de Elifas Andreato. Foto: Sérgio A M Decourt

Um encontro de amigos

Naquela tarde ensolarada de domingo, repleta de homenagens e valorização da memória, acontecia concomitantemente a 100ª Feijoada dos Amigos. A Feijoada é um evento de caráter de confraternização também organizado por Sérgio Gomes e que, em função da edição especial, havia se deslocado de sua casa para a praça. Quem passou pela praça e quis se juntar ao almoço ou papo, foi muito bem-vindo!

Estudantes, jornalistas e demais presentes assistem a inauguração da faixa e saboreiam a feijoada dos amigos. Encontro significou também a união de gerações, com direito a conselhos dos jornalistas mais experientes aos ‘repórteres do futuro’. Foto: Sérgio Decourt.

Por volta das 15h, Sergio Gomes subiu as escadas da praça e fez uma fala lembrando a importância do momento e agradeceu a presença de todos. Citou um a um dos presentes, relembrando-os por seus feitos enquanto jornalistas e profissionais. Em determinado momento, pediu que os mais experientes dessem conselhos aos jovens estudantes. Aldo Quiroga, editor-chefe da TV Cultura, e Gilberto Maringoni, jornalista, cartunista e professor universitário, deixaram suas mensagens em uma só palavra: “coragem”.

E assim, nessa festa de muitos encontros, todos começaram a se despedir de 2019.

A OBORÉ retoma suas atividades em fevereiro. Até lá!

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