22/10/2019

“Todo mundo é responsável”, Silvia Souza aborda racismo no 6º curso de Informação sobre Jornalismo e Direitos Humanos

No sábado, 19 de outubro, aconteceu o quinto encontro do 6º curso de Informação sobre Jornalismo e Direitos Humanos do Projeto Repórter do Futuro. O módulo é uma parceria da OBORÉ Projetos Especiais com a Conectas Direitos Humanos.

A especialista convidada para tratar sobre racismo estrutural foi Silvia Souza, Assessora de Advocacy da Conectas e representante da instituição no Congresso Nacional. A coordenação do curso é do jornalista Marcelo Soares.

Racismo estrutural

Em 1933, Gilberto Freyre publicou “Casa Grande e Senzala”, obra que serve de base para muitas discussões sobre o mito da “democracia racial” e o espaço do negro dentro da sociedade brasileira. Publicada no começo do século XX, o livro valoriza o Brasil mestiço, que reconhece a participação da população negra na constituição da nação e do brasileiro.

Entretanto, há um debate mais profundo a ser realizado sobre este reconhecimento. País que mais recebeu escravos no mundo, o Brasil foi e é violento diariamente com os indivíduos que não são da raça branca e que são, portanto, considerados fora do padrão. Para Silvia, “o racismo deve ser entendido como uma ferramenta que hierarquiza as pessoas dentro do sistema”.

Segundo pesquisa da DataFolha apresentada por Silvia, 89% dos brasileiros reconhecem que existe racismo e 88% negam que são racistas. Outra pesquisa da Fundação Perseu Abramo aponta para 91% e 96%, respectivamente. Reconhecer a existência do racismo na sociedade não é mais um grande problema, mas o reconhecimento dos próprios indivíduos sim.

O racismo “à brasileira” possui traços do racismo chamado “recreativo” pelo professor José Adilson Almeida, ou seja, que se dá através da naturalização de microagressões e expressões racistas como por exemplo, “a coisa está preta”, para se referir à situações ruins.

Enquanto os negros são inseridos no espectro das raças, o indivíduo branco não se vê dentro de uma raça específica, mas sim como o normal da sociedade, deslocando para a anormalidade os indivíduos que diferem de si mesmo. No final do século XIX, em 1870, as teorias raciais colocavam a mestiçagem como a causa da deterioração da sociedade brasileira.

O negativismo da condição de racista por quase toda a população ignora o processo de branqueamento que o país passou com a chegada dos imigrantes europeus e que também tem reflexos na obra de Freyre.

Silvia apontou que o racismo estrutural funciona principalmente em quatro pilares: ideologia, política, direito e economia. Ao longo dos anos de império e república do Brasil, houve a predominância de conceitos eurocêntricos e o apagamento da ancestralidade dos povos que habitavam o território ou que chegaram como escravos.

Com a chegada dos regimes democráticos, há a carência de representação destas parcelas nas instituições do Estado e a negação do racismo como tecnologia de violência institucional. É apenas em 1937 que será permitido por lei que pessoas de pele preta estudem. Salvador, a cidade que mais recebeu negros no país, nunca teve um prefeito preto.

Silvia finalizou questionando o lugar de cada um na luta antirracista. Para a advogada, o racismo “é um problema da sociedade, todo mundo é responsável. É fundamental abrir o debate discutindo”. Independente de raça, gênero, sexualidade ou religião, reconhecer o problema dentro de si é o primeiro passo para se transformar e transformar o entorno.

Último encontro

No sábado, 26 de outubro, os estudantes participarão da última atividade deste módulo. Estes serão avaliados, avaliarão os coordenadores e será feita a entrega dos certificados do curso.

PROGRAMAÇÃO

6º CURSO DE INFORMAÇÃO
SOBRE JORNALISMO E DIREITOS HUMANOS

PROJETO REPÓRTER DO FUTURO

Coordenação geral do módulo: Sergio Gomes
Jornalista convidado para mediação das conferências e coletivas: Marcelo Soares

14/09 | Perspectiva histórica e sistemas internacionais de
proteção aos direitos humanos
Palestrante: Jefferson Nascimento
Origem do conceito direitos humanos e sua evolução histórica. O nascimento da ONU e a declaração Universal dos Direitos Humanos. Introdução aos sistemas internacionais de direitos humanos (ONU e OEA). Incorporação dos direitos humanos ao ordenamento jurídico brasileiro, o trabalho da política externa e sua participação nos sistemas internacionais.

21/09 | Migração e refúgio
Palestrante: Camila Asano
Normas nacionais e internacionais de proteção à migração e refúgio. A nova lei de migração. O panorama da migração no Brasil e no mundo e quais são as principais dúvidas das pessoas a respeito do tema e quais são os erros mais cometidos por jornalistas.

28/09 | Trabalho escravo
Palestrante: Julia Cortez da Cunha Cruz
Como se configura o trabalho escravo. Quais são os casos mais comuns no Brasil e quais os mecanismos de prevenção e combate dos quais se dispõe.

05/10 | Tortura
Palestrante: Henrique Apolinário
O que é tortura e como ela se revela nas estruturas institucionais de poder. Normativas nacionais e internacionais que regulam a questão, mecanismos de prevenção e combate à tortura em locais de privação de liberdade e situação do sistema prisional brasileiro.

19/10 | Racismo estrutural
Palestrante: Silvia Souza
Como a raça se constitui como marcador de diferença social em toda a estrutura da
sociedade brasileira e provoca desigualdade, seletividade penal e violações de direitos.

26/10 | Encerramento
Avaliação dos alunos, avaliação dos coordenadores e entrega dos certificados

Para saber mais:

Conectas Direitos Humanos
www.conectas.org
+55 11 3884-7440

OBORÉ Projetos Especiais
www.obore.com
+ 55 11 2847.4567
WhatsApp: 11 99320.0068

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