20/11/2023

“Imparcialidade não existe”, destaca Maria Farkas em encontro com estudantes do curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo

Cineasta e produtora visual compartilhou experiências, aprendizados e desafios da arte cinematográfica. Curso integra as atividades do Projeto Repórter do Futuro e propõe discutir pautas da cidade a partir das lentes do cinema.

“Quando produzo ou dirijo algo, eu parto de um lugar, de uma classe social, de um gênero, de um ângulo. A gente parte de um lugar para fazer o recorte. Por isso, a imparcialidade é irreal, não existe”, afirma Maria Farkas referindo-se ao processo de escolhas na realização de obras audiovisuais.

Maria Farkas durante durante 3ª edição do curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo. Foto: divulgação.

Ela, que é cineasta e trabalha desde 2001 com cinema e televisão, ressalta a necessidade de um olhar crítico de todas as pessoas envolvidas no processo de produção, pois, segundo ela, “tudo que a gente decide reverbera no projeto pronto, e isto, no final, comunica e impacta nas pessoas”.

“Todas as decisões que tomamos têm impacto na criação do discurso do que a gente faz. Na ficção, isso está muito ligado aos gêneros e não temos muito como fugir. Tem caminhos prontos”, afirma Farkas referindo-se aos padrões impostos pelos próprios gêneros cinematográficos, haja vista a expectativa dos espectadores ao escolherem determinada obra para assistir.

“No documentário, o buraco é mais embaixo. A gente sabe que ninguém se desnuda completamente frente à câmera, mas a pessoa está se colocando em primeiro plano. Então, quando a gente toma decisões acerca da pessoa real é muito mais difícil do ponto de vista ético”, complementa Maria, referindo-se ainda ao processo de escolha e edição nas produções documentais.

Para ela, o cuidado ao produzir documentário é maior que o da obra de ficção, pois aquele faz um recorte da realidade e as escolhas podem impactar não apenas os entrevistados, fontes e personagens que participam, mas também as pessoas que assistem.

“Na ficção, como fica a responsabilização pela criação de discursos? Não acho que todas as pessoas que fazem ficção tenham esta preocupação. Acho que hoje em dia já tem uma geração mais consciente politicamente. Enquanto diretora, mesmo dentro da ficção, eu tento fazer diferente, tento tomar um cuidado maior com a criação do imaginário”, completa Maria.

Bons caminhos

E para quem está começando, Maria dá algumas dicas importantes, tais como:

  • Objetividade narrativa. “É muito duro, é muito difícil fazer cortes, tanto nas falas, quanto de personagens, de fontes. Para isso, é necessário pensar: qual história que a gente está contando?”.

  • Tempo. “É importante saber o tempo final e o tempo para editar. Se você sabe para onde vai o seu produto final, fica mais fácil de tomar as decisões. Se tiver mais conteúdo do que a capacidade e o tempo, seu sofrimento aumenta”.

  • Funções definidas. “Qualquer processo audiovisual é muito hierarquizado e as pessoas têm funções bem claras e definidas”.

  • Entrevistas. “Ao entrevistar alguém para um documentário ou TV, eu busco criar uma ambientação, um lugar de acolhimento. Chego antes, converso. Só depois a câmera é ligada”.

  • Ética e responsabilidade. “No Causando na Rua, a gente tinha como premissa que cada episódio seria um tema que se passava no espaço público. A ideia era ter sempre dois protagonistas, isto pensando em estimular um debate. Um dos episódios pensados foi sobre cotas raciais. Seguimos com as duas linhas na pesquisa, contra e a favor. Até que determinado momento paramos e nos questionamos: a gente vai dar palco pra maluco, para estas pessoas que são contra as cotas? Então demos um passo para trás porque chamar estas pessoas [contrárias às cotas] seria desqualificar o debate”.

SERVIÇO

Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo | 3ª edição - 2023

Esta edição é uma parceria entre a OBORÉ e o Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD), viabilizada por meio de emenda parlamentar do vereador Eliseu Gabriel ( PSB/SP) junto à Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo.

A atividade reúne cerca de 100 estudantes universitários e recém-formados de todo o Brasil e tem a proposta de discutir a complexidade cultural, social, econômica, política e urbana da cidade de São Paulo por meio das lentes do cinema e do jornalismo.

No curso, os participantes são convidados a assistir filmes, participar de debates, reflexões e entrevistas coletivas com especialistas sobre as obras cinematográficas e as temáticas nelas envolvidas, além de produzirem, durante o percurso, trabalhos jornalísticos em diferentes formatos e plataformas - textos, vídeos, áudios ou multimídia.

SAIBA MAIS

Conheça as produções realizadas em módulos anteriores:

1ª Edição - 2021 [link para o e-book, em pdf]

2ª Edição - 2022 [link para o e-book, em pdf]

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