Acidentes e mortes no trabalho: os mais pobres são as maiores vítimas
Autoridade máxima no país na área de Saúde do Trabalhador, o médico Marco Antonio Perez foi o convidado do último sábado do curso "450 Pautas: Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter" no encontro denominado "Trabalhadores: uma radiografia". O curso, realizado pela OBORÉ em parceria com a ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), faz parte do Projeto Repórter do Futuro, atividade desenvolvida pela OBORÉ há 10 anos, voltada especialmente para estudantes de jornalismo.
Coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador e responsável, no Ministério da Saúde, pela implantação de políticas de Saúde do Trabalhador no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), Perez apresentou o histórico da Saúde do Trabalhador no Brasil que surge no final dos anos 70, mas só se consolida a partir da Constituição de 1988 com o SUS.
"Isso não caiu do céu", diz Perez, lembrando que houve uma grande luta para que a Saúde do Trabalhador fôsse de fato uma área contemplada nas propostas do SUS. Os protagonistas dessa batalha faziam parte do movimento pela reforma sanitária, responsável em grande parte pela construção do SUS, e do movimento sindical que na época reivindicava que a saúde do trabalho fizesse parte das políticas de Saúde Pública.
Marco Perez: "Estamos trabalhando no desenvolvimento de uma política que tem como diretriz as ações de Saúde doTrabalhador em todos os níveis da Atenção Básica do SUS". Na foto, ao lado de Marcelo Soares, da ABRAJI e Ana Luisa Zaniboni, diretora da OBORÉ
"Saúde do Trabalhador é um conjunto de ações que por meio da vigilância epidemiológica ( notificação de doenças ) e vigilância sanitária ( intervenção nos ambientes de trabalho ) devem garantir a melhoria das condições de atendimento ao trabalhador vítima de doenças e acidentes nos ambientes de trabalho", explica Perez. Além disso, essas ações devem garantir ainda estudos sobre o impacto de novas tecnologias na saúde dos trabalhadores. Outra ação importante é a que garante ao trabalhador ser informado sobre os riscos a que está exposto.
Ele disse ainda que as políticas voltadas à Saúde do Trabalhador avançaram pouco, com exceção de alguns municípios que investiram mais no desenvolvimento dessa área. Hoje, a Coordenação trabalha visando uma política que tem como principal diretriz introduzir as ações de Saúde do Trabalhador em todos os níveis de Atenção Básica do SUS. Isso significa, por exemplo, que os agentes comunitários do Programa de Saúde da Família (PSF) devem ser preparados não só para identificar o trabalhador com algum tipo de doença do trabalho como também para encaminhar os casos.
Um dos grandes problemas apontados por Perez é que são feitos poucos diagnósticos de doenças do trabalho porque os funcionários da saúde não estão capacitados para isso. Segundo ele, a figura do especialista nesse processo é fundamental. "Um serviço de pneumologia não pode dar o diagnóstico de tuberculose para o indívíduo que está com silicose e isso acontece muito". A silicose é uma doença fatal, causada por uma poeira chamada sílica, que ataca os pulmões e mata por incapacidade respiratória.
A falta de diagnósticos e de registros (notificações) dos acidentes de trabalho acaba por camuflar os números. Não se sabe ao certo quantos e de quais doenças sofrem os trabalhadores brasileiros. Sabe-se, no entanto, que a massa de trabalhadores é estratificada. Enquanto a população com poder aquisitivo maior sofre de doenças mentais relacionadas ao trabalho, a camada mais pobre está mais exposta a acidentes fatais.
É nessa faixa que estão os trabalhadores rurais que morrem por intoxicação de agrotóxicos, os motoboys das grandes cidades que perdem a vida no trânsito, os trabalh