14/10/2024

Brasil: mais de 50 estudantes se formam em Jornalismo em Guerra e Violência Armada

Brasília (DF) - Durante cinco sábados, 50 estudantes universitários participaram da 23ª edição do “Jornalismo em Guerra e Violência Armada” – Projeto Repórter do Futuro, uma parceria do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) com a OBORÉ Projetos Especiais no Brasil. Os alunos tiveram a chance de conhecer como funciona o CICV no Brasil e no mundo, a importância das Convenções de Genebra, os limites do uso da força, o combate à disseminação de discursos prejudiciais, entre outros.

Em cada aula, depois de ouvir os palestrantes, os estudantes participaram de uma coletiva de imprensa para depois escrever uma reportagem a respeito da temática. O jornalista e professor Aldo Quiroga, coordenador pedagógico do curso, considera que, pelas perguntas durante as coletivas, foi massivo o engajamento dos alunos. "Terminar um curso com esse patamar de respostas dos participantes é muito gratificante”, avaliou.

Na primeira aula, o chefe de Operações da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Daniel Muñoz-Rojas, apresentou o trabalho da organização, as principais preocupações humanitárias em 2024, e respondeu às perguntas dos participantes. Já o jurista e consultor legislativo do Senado Federal, Tarciso Dal Maso, expôs sobre “Os 75 anos das Convenções de Genebra: o que o repórter precisa saber sobre as ‘leis da guerra’”. Para ele, este ano é ainda mais emblemático porque se celebram os 75 anos das Convenções de Genebra de 1949.

Os alunos também puderam assistir a outras duas palestras: “Normas internacionais aplicáveis à função policial no uso da força e de armas de fogo”, com o assessor Técnico do Programa com Forças Policiais e de Segurança do CICV, Edmar Martins, e “O impacto da desinformação e do discurso de ódio em conflitos armados”, com a coordenadora de Proteção do CICV, Marta Andrade.

Na penúltima aula, as jornalistas Paola De Orte, correspondente da TV Globo para o Oriente Médio, e Janaína Figueiredo, repórter especial e colunista do jornal O Globo, debateram a cobertura da imprensa, contando suas experiências em áreas de conflitos armados e violência armada e recomendaram aos estudantes que sempre procurem as populações envolvidas para poderem aproximar o telespectador/leitor e não só busquem as fontes oficiais.

Paola de Orte considera essencial ouvir os relatos daqueles que estão diretamente envolvidos. “Eu aprendo tanto com as histórias, sofrimento e experiências de vida que as pessoas contam... E esse é o meu papel, mostrar a realidade da população em meio a um conflito”, destacou.

Janaína Figueiredo comentou que adora estar em campo. “É lá que o jornalista se nutre. As fontes dão o bastidor da notícia, mas tem que desconfiar sempre, ir para a rua, tem que ir a lugares que te dão medo, conversar com as pessoas. Não adianta ficar só ouvindo o governo, especialistas”, ressaltou.

Na avaliação do curso, os alunos relataram que mudaram suas percepções e visões críticas da cobertura internacional. A estudante do 8º semestre de Jornalismo Ana Clara Alves elogiou. “Para mim, foi muito importante ter participado do curso porque estes temas não são discutidos com essa profundidade na minha Faculdade. Foi incrível”, afirmou.

O estudante do 6º semestre de jornalismo Luis Felipe Ribeiro disse que um dos momentos mais marcantes foi o depoimento da jornalista Paola de Orte que, no momento da aula, teve de deixar a sala virtual porque havia tocado a sirene em Tel Aviv, anunciando que todos deveriam se abrigar por haver risco de ataque no local. “O jornalismo, durante conflito armado, não é apenas relatar os incidentes, mas também dar voz aos mais afetados de toda a situação. É uma tarefa que requer coragem e responsabilidade. Mesmo estudando jornalismo, a gente não tem noção do que passam os correspondentes internacionais. Minha admiração pelos profissionais só aumentou”, ressaltou.

Já a aluna Vitória Guimarães considera o curso como uma das melhores experiências extracurriculares que teve ao longo da graduação. “O curso, como um todo, foi incrível. Não sabia que seria submetida a tanta informação nova e de qualidade, que me deu vontade de ser um deles (trabalhar com cobertura internacional). Gostei tanto das aulas que penso em cursar jornalismo assim que terminar Letras”, disse.

Sobre o curso

O curso, de realização anual, faz parte do Projeto Repórter do Futuro, modelo de curso de “complementação universitária” concebido pela Oboré em 1994 com o objetivo de oferecer alternativas de autodesenvolvimento e incentivo às carreiras dos futuros repórteres. Ao todo, 369 estudantes se inscreveram para esta edição.

Entre os objetivos do curso, a promoção do Direito Internacional Humanitário (DIH) e as atividades do CICV, divulgar as consequências humanitárias dos conflitos armados e da violência armada; fornecer um quadro geral, conceitos e elementos-chave para a cobertura jornalística dos conflitos armados e violência; e debater o papel do jornalista em uma situação de conflito armado ou violência armada, principalmente no que se refere às consequências humanitárias e às pessoas afetadas.

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