Crise Venezuela-Colômbia: a solução deve ser bilateral, com a facilitação de países verdadeiramente interessados
A crise desencadeada pelo seqüestro, em dezembro, em plena Caracas do dirigente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Rodrigo Granda, não pode servir de móvel para erguer obstáculos à causa da integração dos países do continente sul-americanos. A dura reação do governo Chávez, em defesa da soberania de seu país, foi legítima e pautada nas normas do direito internacional.
Ocorre que Granda foi capturado por alguns militares e policiais venezuelanos subornados por dinheiro - que o governo Uribe chama de recompensa - , levado à cidade colombiana de Cúcuta na fronteira com a Venezuela e entregue às autoridades do governo central colombiano. Não houve pedido de extradição, não havia comunicado a Interpol, o governo venezuelano não havia sido previamente informado da ação. Enfim, um completo desrespeito às normas de boa convivência entre nações soberanas.
A alegação do governo Uribe é de que se tratou da captura de um dirigente terrorista e narcotraficante, acobertado em território venezuelano, que havia obtido a nacionalidade venezuelana - posteriormente o governo da Venezuela divulgou que a naturalização havia sido concedida com base em documentos falsos, portanto, nula de pleno direito - e que, com liberdade de movimentos, representaria uma ameaça aos interesses e à vida de colombianos.
Ora, no Brasil, como em outros países de nossa região, vivem representantes das Farc, que assistem a eventos públicos, participam do Foro São Paulo, são entrevistados pela imprensa, estão identificados. Qual seria a reação do governo brasileiro, e de outros governos, se algum desses representantes, vivendo em território brasileiro, fosse capturado por funcionários brasileiros, transferidos para o exterior, sem o prévio conhecimento ou pedido formal de extradição?
De resto, a imputação às Farc de grupo terrorista só é feita em nosso hemisfério pela própria Colômbia e pelos Estados Unidos. O Itamarati, logo no começo do governo Lula, recusou-se a acoimar as Farc de terroristas e narcotraficantes até na expectativa de um dia poder facilitar um eventual acordo entre esse agrupamento de 40 anos de existência e o governo local.
Age bem o governo brasileiro em se oferecer e agir no sentido de buscar estender uma ponte de entendimento entre Chávez e Uribe. O emissário de Lula, Marco Aurélio Garcia, logo à saída de seu encontro com o presidente da Venezuela afirmou que Chávez não está interessado em dar maior dramaticidade aos acontecimentos e manifestou disposição para um entendimento. É o momento de trabalhar firmemente, pelos meios diplomáticos, por uma solução justa e satisfatória, talvez chamando outras chancelarias do continente a participar da facilitação, para a final, face a face, Chávez e Uribe possam selar um acordo com base em regras claras e no direito internacional.
Mas existe alguém interessado em lançar achas à fogueira? Existe, o governo Bush e seu Departamento de Estado. Nas audiências prévias no Senado americano a sua indicação para Secretária de Estado, Condoleezza Rice atacou duramente, por razões ideológicas, o governo Chávez. O governo Bush não admite a revolução bolivariana, apoiou o golpe de estado de abril de 2002, deu respaldo à greve e sabotagem petroleira de dezembro/janeiro de 2003, sustentou financeira e politicamente a campanha da oposição no referendo de agosto de 2004.
Bush alimenta um ódio visceral à Revolução Cubana e a Fidel Castro e não engole a aproximação do povo e da nação venezuelana ao povo e à nação cubana, bastante proveitosa para ambos os lados. O governo Bush tudo fará para torpedear a Comunidade Sulamericana de Nações posto que a integração porá fim a uma submissão secular aos interesses econômicos, políticos e culturais do império. Hoje usa a Colômbia, feito aliado no Plano Colômbia, fornecendo recursos econômicos e logísticos, pondo à disposição conselheiros militares, como cunha para desbaratar a integração.
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