Homenageados da 4ª edição do Troféu Audálio Dantas ressaltam o Jornalismo como pilar da Democracia

Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Juliana Dal Piva, Leonardo Sakamoto, Rene Silva e Valmir Salaro foram homenageados com o “Troféu Audálio Dantas - Indignação, Coragem , Esperança” em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo.

A homenagem teve lugar no Auditório Prestes Maia/Plenarinho na Câmara Municipal de São Paulo na última terça-feira, 6. Vanira Kunc Dantas, viúva de Audálio, e Sergio Gomes, diretor da OBORÉ, conduziram a solenidade. Estudantes e jornalistas recém-formados com passagens pelo Projeto Repórter do Futuro, em conjunto com os Centros Acadêmicos da PUC-SP, Cásper Líbero e ECA-USP, manifestaram-se a favor de homenagear jornalistas veteranos no ano que vem. Alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog, zona leste de SP, participaram da solenidade e entregaram, ao lado da diretora Keilla Barreto Girotto, o troféu para o jornalista Rene Silva.

O primeiro homenageado foi o jornalista Valmir Salaro. Oswaldo Colibri Vitta proferiu palavras em vídeo ao amigo e reconheceu, dentre as várias qualidades de Salaro, a coragem de assumir um erro do passado no documentário “Escola Base: um repórter enfrenta o passado”, que estreou este ano no GloboPlay. Em seu discurso, Valmir deixou recado para jovens estudantes de jornalismo, reiterando a importância da checagem das informações antes de publicá-las. E caso erre, assumir é fundamental.

“A gente pode errar, e se errar, reconhecer”, afirmou o jornalista veterano.

Foto: entidades de jornalistas que integraram as homenagens e que juntas comemoraram o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Richard Lourenço / CMSP

Na sequência, Leonardo Sakamoto recebeu o troféu em reconhecimento ao seu trabalho na Repórter Brasil denunciando formas de trabalho análogo à escravidão. Sakamoto, professor da PUC-SP e colunista da Uol, fez um desabafo público sobre os quatro anos de governo Bolsonaro, período em que os jornalistas tiveram grandes dificuldades de atuar na profissão. Afirmou que a falta de valorização dos direitos humanos e do jornalismo no Brasil não é fruto somente do governo Bolsonaro e sim uma marca da nossa colonização de mais de quinhentos anos.

“O jornalismo como alicerce básico da democracia significa tomar partido dos direitos humanos”, afirmou o jornalista. A fala de homenagem ao Sakamoto foi enviado por Patrícia Campos Mello, que estava na Ucrânia cobrindo a guerra. Campos Mello foi a homenageada na terceira edição, em 2022. Os 30 profissionais que constituem a equipe de Sakamoto na Repórter Brasil receberam um certificado de honra ao mérito.

Jamil Chade abriu as homenagens a Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP). Paes Manso também é autor de “A República das Milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, vencedor do prêmio Jabuti em 2021. Em vídeo, Chade, que vive em Genebra, definiu como fundamental o trabalho do amigo de profissão. Em discurso, Paes Manso agradeceu a homenagem, parabenizou os outros ganhadores, em especial o trabalho de Juliana Dal Piva - “o ponto de virada nas eleições presidenciais de 2022”, diz ele.

“Se não fossem os livros dela [Juliana Dal Piva], nós teríamos perdido as eleições”, afirmou Bruno Paes Manso.

Juliana Dal Piva foi homenageada na sequência. A jornalista é autora do livro “O Negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro”, publicado em 2022. Em julho de 2021, recebeu ameaça de Frederik Wassef, advogado do ex-presidente e seus filhos. Dal Piva foi homenageada pela jornalista Mara Régia. Durante discurso, Dal Piva agradeceu às mulheres que a precederam e citou Antonieta de Barros, primeira mulher negra no parlamento brasileiro. A jornalista relembrou ainda seus primeiros passos no jornalismo durante o módulo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se repórter” - Projeto Repórter do Futuro.

A cartunista Laerte foi quem homenageou o comediante Gregório Duvivier pelo trabalho no programa Greg News, produzido pela HBO. Denis Russo, co-editor chefe do Greg News, representou Duvivier na cerimônia. O programa em formato de “talk show”, no ar desde 2017, faz jornalismo e comédia ao mesmo tempo. Em seu discurso, Laerte comparou o Greg News ao jornal O Pasquim, veículo alternativo que circulou no país durante a ditadura militar.

“O Pasquim e o Greg News têm uma função parecida que é nos ajudar a pautar a nossa realidade de uma maneira crítica”, afirmou Laerte em homenagem a Duvivier.

Cada integrante da equipe do Greg News recebeu um certificado de honra ao mérito. Em seu discurso, o editor-chefe Denis Russo relembrou o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, que completou um ano em 5 de junho.

O jornalista Rene Silva, à frente do projeto Voz da Comunidade, recebeu homenagem de Keilla Barreto Girotto, diretora da Escola Municipal Vladimir Herzog. Na entrega do troféu, os estudantes da escola acompanharam a diretora. Em discurso, o jornalista afirmou a importância da democratização da informação e que as favelas sofrem com preconceito a todo momento.

“Mais do que nunca a gente mostra que o jornalismo comunitário de favela também é importante para a sociedade, principalmente quando nós falamos sobre democratizar a informação. Muita gente que mora em favelas no Brasil vive uma realidade de pouca comunicação. As comunicações comunitárias são um trabalho de resistência. Favela é potência”, afirmou Rene Silva.

Foto: da esquerda para direita: Leonardo Sakamoto, Sergio Gomes, Denis Russo, Juliana Dal Piva, Vanira Kunc Dantas, Eliseu Gabriel, Rene Silva, Bruno Paes Manso e Valmir Salaro. Mazart Gomes / CMSP

Próximo ao fim da solenidade, Augusto Godoy, apresentador da primeira temporada do programa Repórter do Futuro na Rede Câmara, e ativista no movimento dos catadores de reciclados, lembrou que Audálio, por meio do trabalho com a Carolina Maria de Jesus, jogou luz sobre todas as outras muitas Carolinas catadoras.

Ao fim da cerimônia, a jornalista Ana Bottallo, representando o jornal Folha de S. Paulo, recebeu os certificados de menção honrosa em reconhecimento ao trabalho dos profissionais que integraram o Consórcio de Imprensa durante a primeira fase da pandemia de COVID-19. O Consórcio foi homenageado ano passado, na 3ª edição do troféu Audálio Dantas, mas a lista final de todos os integrantes não havia chegado a tempo para emissão dos certificados pelos organizadores.

A curadoria do Troféu Audálio Dantas - indignação, coragem e esperança é da família Kunc Dantas e da OBORÉ. O troféu é uma produção de Roger Matuá a partir de desenho da Laerte. Vale lembrar que a cerimônia na Câmara Municipal foi viabilizada pela parceria com o vereador Eliseu Gabriel.

Confira aqui a íntegra da cerimônia

Por Thaís Manhães