26/08/2024

Luiz Bolognesi explora a relação entre antropologia, cinema e jornalismo em aula a estudantes do Repórter do Futuro

Por Geovana Bosak | estudante de 4º semestre de Jornalismo na PUC-SP

No dia 27 de julho, sábado, a 4ª edição do curso “Cinema e Jornalismo – Luzes sobre São Paulo”, integrado ao Projeto Repórter do Futuro, recebeu Luiz Bolognesi como convidado para o último encontro do módulo. Em conversa com a turma, ele compartilhou sua trajetória profissional e como desenvolveu seus trabalhos mais importantes.

Luiz Bolognesi é jornalista, roteirista, produtor e diretor de cinema. Foi redator do jornal Folha de S. Paulo e da Rede Globo. Com uma carreira marcada por diversos prêmios e reconhecimentos - como o de Melhor Filme na competição do Seoul Eco Film Festival, pela direção e co-roteirização do filme A Última Floresta (2021), sobre o povo Yanomami – ele escreveu e dirigiu filmes como Pedro e o Senhor (1996), O Bicho de Sete Cabeças (2001), As Melhores Coisas do Mundo (2010), Uma História de Amor e Fúria (2013), Elis (2016), entre outras produções.

Para o encontro realizado no sábado (27), foi indicado pela coordenação o episódio 3 – Guerra do Paraguai, da série Guerras do Brasil, dirigido por ele.

Principais pontos do encontro

Com formação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Bolognesi reflete e utiliza abordagens da antropologia em seus trabalhos jornalísticos e documentários. Suas produções frequentemente exploram temas sociais a partir de uma leitura que questiona os padrões eurocêntricos e incluem uma pluralidade de vozes em sua narrativa.

Durante o encontro, ele explicou como a abordagem antropológica de anular uma verdade única pré-estabelecida permite entender o outro e as outras culturas sem impor valores externos, destacando:

“A antropologia é minha grande ferramenta de fazer cinema [...] O universo de buscar entender o outro é uma coisa que me apaixono, por isso que eu fiz jornalismo. Só que daí fui surpreendido por essa possibilidade que a antropologia traz, que é: para você realmente entender o outro, você tem que tirar os seus valores. Não dá para entender a civilização indígena trazendo os valores cristãos da Europa. Você tem que apagar os seus valores e olhar para o outro tentando entender que sentido as conexões, a maneira de pensar, as maneiras de agir faz para ele, e não a gente projetando os nossos valores”.

Segundo Bolognesi, é dessa forma que se constrói um jeito de contar histórias de modo mais ético, autêntico, respeitoso e aprofundado, oferecendo espaço para que as vozes dos personagens sejam verdadeiramente ouvidas e representadas. Ele enfatizou a importância de não tratar os personagens como objetos, mas como sujeitos ativos na construção das histórias:

“É importante que os nossos retratados não sejam objetos, mas tenham lugar de fala. Não olhar para personagens como objetos, mas sim tentar trazê-los e dar a eles uma construção de sujeitos do acontecimento [...] E quando se trata de entender a história, reconhecer o que lhes pertence, que é o lugar de contar essa história”

“Nessa série (referindo-se a sua produção Guerras do Brasil), a gente abriu vozes para as narrativas serem construídas por personagens que de um modo geral a historiografia brasileira, o documentário brasileiro, não dava essa voz. Eram sempre os doutores acadêmicos que 97% das vezes são homens brancos, acima de 40 anos, criados em berços de privilégios, de classe média alta, com raras exceções de intelectuais que vieram da classe operária”

Bolognesi apontou como geralmente as pessoas são apontadas para copiar o que deu certo, sem reconhecer os grandes fracassos, matérias erradas ou Fake News sobre um fato. Ele argumentou que é crucial reconhecer e aprender com esses erros, assim como com as referências bem-sucedidas, para construir um repertório mais sólido e autêntico.

O jornalista também discutiu como construir uma linguagem que seja ao mesmo tempo simples e complexa, evitando o óbvio e a superficialidade, buscando fazer algo novo e com um olhar diferente. Para ele, a verdadeira arte está em traduzir a complexidade das histórias de maneira acessível, mas sem abandonar a profundidade do assunto.

“Nada é tão complexo quanto ser simples, porque o simples é o resultado de uma grande dialética, é uma síntese. Uma coisa é o raso. O raso é detestável, uma coisa que não tem profundidade, mal pesquisada, mal procurada, mal copiada de outro lugar e não se aprofunda. Mas o simples é aquele que a gente compra, a gente acredita, a gente entende, mas tem uma certa consistência. É o resultado de uma complexidade bem traduzida em termos de linguagem”, destacou.

Ao final, os estudantes fizeram perguntas a partir de uma visão reflexiva sobre como a integração de uma abordagem ética, plural e com consciência social e histórica podem transformar o jornalismo e o cinema. Após o encontro com Bolognesi, marcando o 5ª desta edição, os participantes do módulo estão na fase de produção das peças audiovisuais.

SOBRE O CURSO

O curso “Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo” faz parte do Projeto Repórter do Futuro, que oferece cursos e atividades de complementação universitária a jovens estudantes e recém-formados. Nesse módulo, os participantes são convidados a assistir, discutir e refletir sobre práticas de reportagem e produção de conteúdo audiovisual com foco na cidade de São Paulo.

Os encontros aconteceram de junho a julho de modo on-line e incluiu a audição prévia de filmes, palestras com jornalistas, cineastas e especialistas sobre as obras. Ao final, os participantes são incentivados a produzirem sua própria peça audiovisual, relacionada com as temáticas discutidas durante a formação.

Essa é uma realização do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais – IPFD, em parceria com a Oboré e com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

SAIBA COMO FORAM OS OUTROS ENCONTROS

1º Encontro, com Algo Quiroga [AQUI]

2º Encontro, com Valmir Salaro [AQUI]

3º Encontro, com Isa Alves [AQUI]

4º Encontro, com Bianca Vasconcellos [AQUI]

CRONOGRAMA

- 22 e 29 de junho; 6,20 e 27 de julho de 2024: Conferência remota com os convidados (via Zoom), sempre aos sábados, das 10h às 12h30.

- 15 de julho a 15 de setembro: Produção das reportagens / documentários pelos estudantes, em dupla ou trio, com acompanhamento da coordenação.

- 15 de setembro a 31 de dezembro: Produção de peça digital (e-book) contendo o histórico do curso e as produções dos estudantes para registro e divulgação pública.

Conheça as produções realizadas em módulos anteriores:

1ª Edição – 2021 [link para o e-book, em pdf]

2ª Edição – 2022 [link para o e-book, em pdf]

3ª Edição – 2023 [link para o e-book, em pdf]

MAIS INFORMAÇÕES

reporterdofuturo@obore.com
Telefone: (11) 2847.4567
Whatsapp: (11) 99320.0068.

www.obore.com


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