22/12/2021

O que as pizzas dizem sobre São Paulo?

O que uma pizza, este prato tão conhecido e aclamado em várias regiões do país, pode explicar a cidade e as relações sociais que engendra? O cineasta Ugo Giorgetti defende que há muito o que se contar sobre São Paulo tendo como base esse ícone da culinária italiana.

Em seu filme "Pizza", lançado em 2005, o cineasta mostra uma São Paulo repleta de diversidade, tradições e agitação cultural. Em bairros diferentes, diz ele, uma pizza de mesmo sabor podia variar de R$6 a R$48 e esse é um dos jeitos de apresentar a cidade.

"Eu tinha uma ideia, que não era falar sobre pizza, mas da cidade. E como? A minha intenção - seja em ficção ou documentário - é fazer um filme que veja o assunto que estou tratando a partir de um ângulo um pouco diferente, porque os assuntos que imaginamos inéditos já foram todos esgotados pelos gregos, desde Homero", disse Giorgetti.

"A pizza me deu a possibilidade de falar sobre um prato que é unanimidade e que liga todos os cantos da cidade", disse, defendendo a ideia de que os assuntos devem ser tratados a partir de um ponto de vista pessoal.

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No subtexto do filme, o que Giorgetti procura abordar é a desigualdade. Ele comenta que tratou sobre uma mesma pizza, a de mussarela, e viu o quanto é diferente a que é feita e servida na Zona Leste da cidade e outra, muito mais cara, nos arredores da Granja Viana, por exemplo. "Eu comi as duas e, sinceramente, não vi grande diferença"

Ele destacou também que o filme deve ser visto com muito cuidado para entender outras questões, como uma relação de trabalho que traz vestígios do período de escravidão no Brasil. "Para fazer um documentário você precisa escolher um assunto e tratá-lo de uma pequena um pouquinho singular", disse.

Em toda produção de filmes ou documentários, o cineasta aponta que é necessário estar preparado para imprevistos, pois eles acontecem a todo momento. A equipe precisa estar atenta para prever o máximo de acontecimentos possíveis. Também sugeriu que um bom diretor é aquele que está apto a ouvir opiniões e observações de quem está no set junto com ele. Mesmo que não acate todos os palpites e sugestões, uma boa postura para o cineasta é a da escuta aberta.

Giorgetti participou de mais de vinte produções audiovisuais, entre ficção e documentários. Ele afirma não ser documentarista clássico, porém, ao chegar aos oitenta anos de idade, pensa não ter mais fôlego para grandes trabalhos ficcionais e acredita que irá se dedicar a documentários até o fim de sua carreira.

"Para fazer um documentário você precisa escolher um assunto e tratá-lo de uma pequena um pouquinho singular" - Ugo Giorgetti

O último longa de Giorgetti foi "Paul Singer - Uma utopia militante", de 2021. O documentário mostra a vida do intelectual e educador desde que chegou ao Brasil, em 1940, fugindo da II Guerra Mundial.Outros títulos da filmografia de Ugo abordam a cidade, como Campos Elíseos (1973), Rua São Bento, 405 (1976), Uma Outra Cidade (2000), entre outros.

O cineasta participou da última conferência de imprensa com estudantes do curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo, promovido pelo Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD) e OBORÉ com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Os próximos três encontros serão dedicados a atividades de campo e produção de peças audiovisuais baseadas em temas da cidade suscitadas pelas obras discutidas no módulo.

Acompanhe aqui os encontros anteriores do módulo:

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