16/10/2023

“Que recado estamos dando à sociedade com a escolha dos vencedores?”, indagou Ana Luisa Gomes, curadora do 45º Prêmio Herzog, ao abrir a Sessão Pública do Júri

Na última terça-feira, 10 de outubro, aconteceu a Sessão Pública de Julgamento da 45ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que definiu os sete vencedores do Prêmio. Em 2023, foram 630 trabalhos inscritos e 24 finalistas. A sessão do Júri de Premiação aconteceu no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de S. Paulo.

Primeira fila, da esquerda para direita: Mariana Valadares, representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Ana Luisa Zaniboni Gomes, curadora da 45ª edição; Luiza Buchaul, representante da Conectas Direitos Humanos; Márcia Quintanilha, representante da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e Fernanda Pereira, representante da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo. Segunda fila, da esquerda para direita: Giuliano Galli, representante do Instituto Vladimir Herzog (IVH); Tatiana Farah, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Thiago Tanji, representante do Sindicato dos Jornalistas (SJSP); Rodrigo Ratier, representante da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e Elcio Fonseca, representante da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo. Foto: OBORÉ | Thaís Manhães.

Definição dos vencedores

Giuliano Galli, representante do Instituto Vladimir Herzog, foi o relator da categoria Vídeo e indicou “Vale dos Isolados”, de Sônia Bridi e equipe | TV Globo/Fantástico, como produção vencedora.

“Destaco também as imagens inéditas da busca por vestígios do crime ( referindo-se ao assassinato de Dom e Bruno, ano passado). A equipe de reportagem acompanhou o trabalho, que deveria ter sido feito pelo Estado e pelas forças policiais, mas que na verdade foi feito pela UNIVAJA, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari. Isso, por si só, já se configura em uma denúncia jornalística extremamente relevante e que fica ainda mais rica porque a reportagem faz isso, não apenas explicitando essa negligência do poder público mas também enaltecendo o histórico e brilhante trabalho feito pela UNIVAJA”, defendeu Galli.

Thiago Tanji, relator na categoria Multimídia, indicou como vencedor “Ouro líquido”, de Rebeca Borges e equipe | Metrópoles.

“Há um esforço enorme de dar centralidade à história das pessoas e amplificar suas vozes. Isso ajuda a contextualizar a grande questão sobre a qual a reportagem joga luz, que é uma contradição: o óleo de dendê, que é sagrado e reverenciado para milhões de pessoas na Bahia, marcadamente em Salvador e arredores, produzido na costa litorânea, está passando por um problema de escassez e falta de produção; por outro lado, no Pará, onde o dendê não tem ligação cultural para as populações tradicionais, há uma farta produção por parte de latifúndios gigantescos voltada para gerar biocombustíveis
”, defendeu Tanji.

O vencedor da categoria Arte foi “Belicismo e extremismo: a política de militarização do poder”, de Vítor Massao | Instituto Update. O podcast “Projeto Querino”, de Tiago Rogero e equipe | Rádio Novelo, ganhou na categoria áudio. A peça foi indicação do relator Rodrigo Ratier, da ECA-USP, recebida com unanimidade dentre os jurados. Na análise do relator, o podcast fala da história do Brasil iluminando um passado ainda presente.

“A iniciativa mira alto: contar a história do Brasil pelo olhar afrocentrado, e consegue. A um só tempo entregou uma produção seriada em áudio rigorosa, decolonial, indignante e emocionante. O primeiro episódio, foco da nossa análise, denuncia com clareza os objetivos da série e mostra com quais estratégias eles serão atingidos. Pesquisa copiosa, apuração consistente, referenciada em testemunhos e fontes especialistas, jornalismo posicionado - sempre baseado em evidências”, marcou Ratier.

“A cova rasa do Brasil”, de Gabriela Mayer | Revista Piauí venceu na categoria Texto, seguindo a indicação dos relatores Fernanda Pereira, Cláudio Aparecido da Silva e Elcio Fonseca, da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo. Para os relatores, a peça é o reconhecimento de um “passado que não passa no Brasil”.

“A originalidade se dá pela escolha e abordagem, um recorte de classe diferente do que costuma ser pautado quando recupera-se a história da ditadura, ou seja, desloca-se a atenção para as vítimas da ditadura do centro para as periferias e mostra que os corpos dessas pessoas tiveram o mesmo destino: violência, execução e descaso. E acrescento: esse deslocamento para a periferia aponta o verdadeiro caminho da brutalidade da ditadura, mostrando que ele não começa em 64, mas muito tempo atrás. Começa lá nas pisadas do povo negro nos quilombos e fazendas do Brasil colônia, seguem pelas ruas da incipiente República, formando até nossos dias uma longa fila de brasileiros perseguidos sem rosto, sem nome e sem sepultura. Inclusive, visualizamos isto no Guarujá recentemente”, defendeu o Ouvidor Cláudio Aparecido da Silva.

“Mutilados”, de Márcia Foletto | O Globo, venceu na categoria Fotografia, seguindo a relatoria de Marcia Quintanilha, representante da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Para a relatora, a série denuncia a situação gravíssima do crime organizado, das milícias e da violência armada no Rio de Janeiro.

“‘Mutilados’ merece ganhar o Prêmio Vladimir Herzog deste ano exatamente pelo contexto da violência nas cidades e para as quais nós precisamos olhar com mais cuidado, em especial para o Rio de Janeiro, que precisa de socorro. Penso que este é o recado que o Prêmio pode dar para o governo estadual e municipal do Rio de Janeiro: é preciso resolver esta violência urbana porque as pessoas devem ter o direito de ir e vir, e isso não está mais acontecendo no Rio de Janeiro”, defendeu Quintanilha.

Na categoria livro-reportagem, “Arrastados”, de Daniela Arbex ( Editora Intrínseca) foi o vencedor, cuja avaliação contou com a colaboração da UBE – União Brasileira de Escritores, entidade parceira que passará a integrar, formalmente, a partir de 2024, o grupo de entidades organizadoras do Prêmio.

“A escolha de ‘Arrastados’ se justifica também por corresponder às expectativas do Prêmio o efeito de reportagem que não apenas documenta com boa fluência o desastre de Brumadinho, mas também humaniza as personagens reais que participaram de uma das maiores tragédias recentes da história do Brasil”, aponta a relatoria da UBE, lida por Zaniboni Gomes, curadora da edição.

Menção Honrosa

Nesta edição, trabalhos das categorias de Texto, Livro-Reportagem e Fotografia receberam menções honrosas.

“Os defensores não defendidos”, de Catarina Barbosa e Talita Bedinelli, da Sumaúma (PA), recebeu menção honrosa na categoria Texto. “As vítimas da Copa do Mundo do Catar”, de Yan Boechat (Band Jornalismo) recebeu distinção na categoria Fotografia. A obra “Poder camuflado - Os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com Bolsonaro”, de Fábio Victor (Cia das Letras), recebeu distinção na categoria Livro-Reportagem.

Por Thaís Manhães.

Sobre a premiação

A cerimônia solene do 45º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos será no dia 24 de outubro, terça-feira, às 20h, no Tucarena, em São Paulo. A já tradicional Roda de Conversa com os Ganhadores antecederá a cerimônia, das 14h às 17h.

O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento, Instituto Vladimir Herzog (IVH) e Família Herzog.

Um arco de alianças formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC , União Brasileira de Escritores (UBE), Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas ligada à Secretaria de Governo da Prefeitura de São Paulo; Pryzant Design, CDI, Sinpro/SP e OBORÉ atua como grupo de parceiros realizadores desta 45º edição. O patrocínio é da Petrobrás /Governo Federal por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

Saiba mais:

  • Íntegra da Sessão Pública do Júri de Premiação / divulgação dos vencedores (10/10/2023, no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de SP: Canal do YouTube do Prêmio

  • Roda de Conversa com os Ganhadores: 24 de outubro, terca-feira, das 14h às 17h, no Tucarena (PUCSP) – Rua Bartira, 347 – Perdizes, SP

  • Solenidade de premiação: 24 de outubro, terça-feira, às 20h, no Tucarena (PUCSP) - Rua Bartira, 347 – Perdizes, SP.

Mais informações: https://www.premiovladimirherzog.org

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