06/05/2024

Ato na Praça Vladimir Herzog marca homenagem a vítimas de acidentes de trabalho

O encontro “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” , realizado no último domingo de cada mês, na Praça Vladimir Herzog / Centro Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato, agregou no domingo (28/4) trabalhadores e trabalhadoras de várias centrais sindicais no ato unificado em memória das vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

O dia 28 de abril é dedicado em todo o mundo a essa temática. Por ação do movimento internacional de trabalhadores, a data foi escolhida para homenagear 78 mortos, vítimas da explosão de uma mina, nos Estados Unidos, em 28 de abril de 1969.

O "Ato e Canto pela Vida", realizado na Praça Memorial Vladimir Herzog, que fica ao lado da Câmara Municipal de São Paulo, no centro da cidade, foi fruto da articulação que reuniu 45 entidades, dentre as quais sindicatos, federações e centrais sindicais de trabalhadores, além do Ministério do Trabalho e Emprego, Fundacentro, Dieese, Diesat, e outras organizações da sociedade civil.

Em documento coletivo, representantes das entidades organizadoras do ato apontam que o grande desafio atual são políticas sociais que amparem a classe trabalhadora enquanto o jogo cruel e desumano do capitalismo continua a rodar. No Brasil, são 3 mil mortes de trabalhadores por ano - um a cada três horas e meia - em decorrência do trabalho. Foto: Sergio Decourt.

Remígio Todeschini, diretor da Fundacentro, fundação vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, ressaltou a importância da integração de políticas voltadas para a Saúde do Trabalhador e apontou os principais desafios. "A Fundacentro precisa ser reconstruída, mais concursos, mais verbas para pesquisas e formação nesse campo. Os Cerests (Centros de Referência em Saúde do Trabalhador) precisam ser ampliados e contar com mais recursos. É preciso haver maior integração entre (as pastas) Saúde, Previdência e Trabalho, numa ação em que a Vigilância Sanitária do Cerest também trabalhe de forma cooperativa com o Ministério do Trabalho e com os auditores fiscais do trabalho”.

Simone Alves dos Santos, diretora técnica da Divisão de Saúde do Trabalhador/Cerest-SP, alertou para a subnotificação dos casos de acidentes e mortes no trabalho. "Trabalhadores que perderam a vida e estão mutilados ou incapacitados para o trabalho não estão nas estatísticas oficiais. Muitas pessoas não passam pela estrutura do SUS e esses casos ficam invisibilizados, então, é importante a gente ter esse trabalho articulado com o movimento sindical".

Marcus Alves de Mello, Superintendente Regional do Trabalho em SP, representando o ministro Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego, anunciou a criação de um grupo de trabalho para a prevenção de acidentes no Estado de São Paulo. A ideia, segundo ele, surgiu a partir das reuniões preparatórias para o ato deste domingo. "Vamos nos reunir a cada dois meses, com representantes de todas as centrais sindicais. O combate a essa chaga (acidentes e mortes no trabalho) deve ser feito pelo conjunto da sociedade.”

Falando em nome das centrais sindicais que participam do Fórum Nacional em Saúde e Segurança da Trabalhadora e do Trabalhador, Cleonice Caetano Souza, diretora do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e vice-presidenta nacional da UGT – União Geral dos Trabalhadores, disse que o objetivo da união dos sindicatos neste momento é conscientizar a classe trabalhadora para que defenda seu ambiente de trabalho e a classe patronal para que entenda que um ambiente saudável gera maior produtividade. "Nós precisamos que todos os sindicatos se unam para que a gente fortaleça essa luta", destacou.

O vereador Eliseu Gabriel (PSB-SP) destacou a importância de se fazer um ato unitário. “Temos que estar unidos para conquistar mais espaço, retomar os direitos dos trabalhadores e conseguir que o poder público assuma suas responsabilidades”, disse o vereador referindo-se ao desmonte que enfraqueceu não só os sindicatos, mas o próprio Estado, nos governos anteriores.

Para o vereador, é preciso retomar a união dos sindicatos para mudar o trágico cenário que vitimiza tantas pessoas em seus locais de trabalho. “Este ato leva a sociedade a tomar conhecimento dessa situação. E o mais impressionante é que não existe fiscalização. Nós precisamos trabalhar para ter concurso público, aumentar a fiscalização e fortalecer o Ministério do Trabalho nessa questão da segurança”, disse o vereador Eliseu Gabriel, colocando-se à disposição para enfrentar essa luta.

Entidades defendem ações urgentes: integração entre as pastas da Saúde, Trabalho e Previdência, concurso público para aumentar fiscalização e atuação conjunta para conter e prevenir acidentes e mortes. Da esquerda para a direita: Eliseu Gabriel (PSB-SP), Cleonice Caetano (UGT), Nilton Freitas (ICM), Marcus Alves de Mello (SRTE-SP) e Remigio Todeschini (Fundacentro). Foto: Sergio Decourt.

O ato foi encerrado com a Cerimônia da Vela, conduzida por Nilton Freitas, representante regional América Latina e Caribe da ICM (lnternacional dos Trabalhadores da Construção e Madeira). Participantes foram convidados a segurar uma vela simbólica representando a luta por melhores condições de trabalho e o luto pelas milhares de vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho no Brasil e no mundo.

Cerimônia das velas: luto pelas vítimas, luta pela vida. Aparício Clemente (Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Espaço da Cidania) e Sergio Gomes (OBORÉ), do núcleo organizador do evento. Ao centro, Gilberto Carletti, perito do Ministério Público do Trabalho (MPT). Foto: Sergio Decourt.

Compromisso – No manifesto divulgado durante o ato, os organizadores destacam que é hora de unir esforços para que seja implementado com urgência um efetivo sistema de saúde e segurança, com ampla participação dos trabalhadores e trabalhadoras, das entidades sindicais e movimentos sociais.

O objetivo, de acordo com o documento, é a integração entre os diferentes ministérios, em especial o da Saúde, do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, com o núcleo central do governo federal assumindo a luta pela saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras como política de Estado prioritária.

A pedido dos organizadores, Laura Andreato, artista plástica e filha de Elifas Andreato, coordenou, ao final do Ato, uma intervenção artística coletiva - a Árvore da Vida. A partir do desenho de um tronco em uma lona aplicada nas costas da Banca Livraria dos Jornalistas, participantes do evento foram convidados a “carimbar” a palma de suas mãos para formar a copa da árvore - símbolo selado do compromisso com a vida. Fotos: Sergio Decourt.

Dados oficiais – Em 2023, o Sistema de Informação dos Agravos de Notificação – Sinan – do SUS, registrou no estado de São Paulo a média de duas mortes por dia, por acidentes de trabalho. Além disso, especialistas alertam que milhares de pessoas sofrem de doenças físicas e mentais que nem sempre são reconhecidas como consequência da sua condição de trabalhadores.

A parte musical que precedeu o ato foi comandada por Paulinho Timor e o grupo “Inimigos do Batente”. Na estrada há mais de 25 anos, é reconhecidamente uma das rodas de samba mais atuantes e populares de São Paulo. Para a ocasião, o repertório escolhido foi o de sambas que evocam e falam do trabalho e de trabalhador.

Nesses 25 anos de estrada, o "Inimigos do Batente" vem realizando projetos de preservação da memória do samba na Barra Funda, Bom Retiro, Vila Madalena e na Luz sempre prezando pelos rituais da roda e pela valorização do sambista e do universo de onde se origina esse canto do povo. Neste Ato, o repertório foi selecionado a partir do mote “Samba do Trabalhador”. Foto: Sergio Decourt.

Baião de dois no capricho foi o cardárpio escolhido pelos “Cozinheiros da Liberdade” e oferecido no sistema “Quem pode, paga; quem não pode, pega”. Foram preparados cerca de 400 pratos para servir a multidão que participou do “Ato e Canto pela Vida”.

Fernando Gamberini e Ronald Sclavi, da equipe de cozinheiros que preparou o Baião de Dois para a festa do domingo. Além da dupla da foto, mais gente pôs “a mão na massa” para tudo acontecer lá na cozinha do Sindicato dos Cómerciários do Estado de SP: José Vidal Pola Galé, Fernando Gomes, Marlene Mendes, Ingrid Martins, Keilla Barreto Girotto e José Luciano da Silva (Zé das Frutas). Foto: Sergio Decourt.

Foi o maior público da Praça nesses quatro anos de atividades. As Escadarias da Liberdade que o digam... é só conferir na foto oficial feita pelo Sergio Decourt.

Participantes do “Ato e Canto pela Vida” nas “Escadarias da Liberdade” da Praça Memorial Vladimir Herzog. Como cantou João Nogueira, no seu Canto do Trabalhador (1978): “Vamos trabalhar sem fazer alarde pra pisar com força o chão da cidade. A vida não tem segredo ... é só regar pra alimentar o arvoredo. Por essa luta eu não retrocedo pra ver toda a mocidade com os frutos da liberdade escorrendo de entre os dedos e enterrar de uma vez os seus medos...”

SAIBA MAIS

LEIA aqui o Manifesto do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionadas ao Trabalho assinado pelas 45 entidades, instituições e coletivos que, organizadas de forma unitária, promoveram o "Ato e Canto pela Vida" no último domingo, 28 de abril.

ASSISTA aqui o vídeo feito por José Mota, do Coletivo Paulo Freire Zona Norte, sobre a festa do domingo. Está disponível no Canal da Praça!

QUEM foram os promotores do "Ato e Canto pela Vida"

• Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto - ABREA

• Associação de Pais e Amigos de Pessoas com Deficiência do Banco do Brasil e da Comunidade - APABB

• Banca Livraria dos Jornalistas

• Canal da Praça

• Cerest Estadual - São Paulo

• Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB

• Central Única dos Trabalhadores - CUT

• Centro Acadêmico Vladimir Herzog

• Clube de Engenharia de Pernambuco

• Conselho Intersindical de Saúde e Seguridade Social de Osasco e Região - CISSOR

• Coletivo Café sem Pauta

• Coletivo Paulo Freire Zona Norte

• Colibri Comunicação

• Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico - Dieese

• Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho - Diesat

• Espaço da Cidadania

• Engenheiros pela Democracia

• Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo - Fecomerciários

• Federação dos Químicos e Farmacêuticos do Estado de São Paulo - Fequimfar

• Força Sindical - FS

• Força Sindical São Paulo

• Fórum Nacional das Centrais Sindicais em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora

• Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - Fundacentro

• Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira - ICM

• Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas - IIEP

• Instituto Premier

• Jorge Luiz Ussier

• Nova Central Sindical de Trabalhadores - NCST

• OBORÉ Projetos Especiais

• Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região

• Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região

• Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes

• Sindicato dos Químicos de São Paulo

• Sindicato dos Empregados no Comércio de Osasco e Região - SECOR

• Siemaco São Paulo

• Sindicato dos Comerciários de São Paulo

• Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo

• Sindicato dos Gráficos de São Paulo

• Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo - Sintaema

• Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo - SINTESP

• Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado do Paraná

• Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo - SRTE/SP

• União Geral dos Trabalhadores - UGT

• União dos Movimentos Populares de Saúde - UMPS

Por Terlânia Bruno | OBORÉ

Fotos: Sergio Decourt

SERVIÇO

Todo Mundo tem que falar, cantar e comer!

Todo último domingo do mês, a partir das 11h

Local: Praça Memorial Vladimir Herzog – Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato (atrás da Câmara Municipal de São Paulo e em frente à Praça da Bandeira)

O “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” é uma realização do Instituto Elifas Andreato com apoio de Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, Banca Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog, Canal da Praça, Coletivo Café Sem Pauta, Coletivo Paulo Freire, Colibri & Associados Comunicações, FotosPúblicas.com, Instituto Paulo Freire, Instituto Premier, Instituto Vladimir Herzog, OBORÉ e Câmara Municipal de São Paulo.

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