29/07/2024

Dever cumprido: chega ao fim o maior congresso de jornalismo do Brasil

Por Geovana Bosak, Júlia Sardinha e Lucas Andrade | Edição: Lucas Andrade | Arte: Thaís Moraes

Publicação original no blog da Redação-laboratório Repórter do Futuro. Acesse.

“A sensação é de dever cumprido”, destaca Katia Brembatti, presidente da Abraji, ao comentar sobre o 19° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Realizado entre os dias 11 e 14 de julho, na Escola Superior de Marketing e Propaganda (ESPM), em São Paulo, o evento contou com o maior número de participantes, mesas de debates e palestrantes da sua história, ao oferecer uma programação ampla e diversa.

O Congresso é o maior encontro de jornalistas do Brasil e reuniu profissionais do jornalismo de todas as regiões. Contou com a presença de pessoas da periferia, áreas rurais e aldeias indígenas. Este ano, o evento foi realizado de forma híbrida, com mais de 130 atividades presenciais e transmissões on-line, para proporcionar uma maior participação de pessoas interessadas.

Foto: Sergio Gomes.

A jornalista, professora e escritora Fabiana Moraes foi a homenageada da edição, com celebrações de sua carreira e da sua contribuição ao jornalismo. Fabiana, nascida no Alto José Bonifácio, em Recife, se junta a outros grandes nomes da profissão homenageados em edições anteriores, como Angelina Nunes, Caco Barcellos, Carlos Wagner, Clovis Rossi, Dorrit Harazim, Elaíze Farias, Elio Gaspari, Elvira Lobato, Jânio de Freitas, Joel Silveira, José Hamilton Ribeiro, Kátia Brasil, Lúcio Flávio Pinto, Marcelo Beraba, Marcos Sá Correa, Miriam Leitão, Paulo Totti, Rosenthal Calmon Alves, Santiago Andrade, Sergio Gomes, Tim Lopes e Zuenir Ventura.

No último dia, o Congresso promoveu a 6° edição do Domingo de Dados, com foco nas eleições e oferta de oficinas, cursos e palestras sobre o uso de dados para investigações e reportagens eleitorais.

A diversidade foi uma marca registrada do evento, com reflexões sobre o compromisso da Abraji com a inclusão e a representatividade no jornalismo. A presidente da Abraji destaca como um grande acerto do evento deste ano o fato de “caminhar para ser mais significativo e fazer sentido para os jornalistas, promovendo a sensação de pertencimento, sentindo que as pessoas podem vir aqui e aprender alguma coisa e usar na sua realidade local”. Como desafio, Katia comenta que a experiência do usuário no ambiente virtual é um aspecto que buscam melhorar.

Novidades

Basília Rodrigues, analista de política na CNN Brasil e diretora da Abraji, disse que dentre as novidades adotadas neste ano está o Programa de Bolsas para Mulheres Negras, criado por ela a partir de uma inquietação e vontade pessoal.

O projeto reuniu 15 mulheres de todo o Brasil, três de cada região, que participaram do evento com tudo pago pelo seu instituto. “A partir desse programa a gente fez jovens mulheres jornalistas ou estudantes de jornalismo reafirmarem o motivo delas terem escolhido essa profissão. Saíram daqui muito melhores e transformadas. Elas agora entendem muito melhor o tamanho da responsabilidade que elas têm, incentivada por esse programa”.

Arte: Thaís Moraes.

Basília ainda ressaltou a importância dos patrocinadores para o programa de bolsas, já que, inicialmente, a organização tinha verba para apenas cinco mulheres. “A Fundação Lemann, a Natura e o YouTube entraram junto com a gente nessa, para que pudéssemos ampliar o número de bolsas”, finalizou a jornalista.

Neste ano, para facilitar a escolha dos congressistas, as trilhas temáticas da programação ficaram mais evidentes e mais bem organizadas. Foram 14 temas selecionados para agrupar as palestras, oficinas e debates do evento.

Paula Neiva, da equipe de Comunicação da Abraji e uma das coordenadoras do Congresso, afirmou que é sempre um grande desafio criar a programação deste evento, “principalmente porque temos um processo aberto, uma chamada pública para coletar sugestões para, enfim, construir essa grande programação”.

Angelina Nunes, ex-presidente da entidade e atual coordenadora do Programa Tim Lopes, falou que a trilha temática de Proteção e Segurança a Jornalistas trouxe novos temas para debate durante a edição. Segundo ela, “o que a gente apresentou e discutiu bastante foi o trabalho do núcleo de segurança da Abraji”.

A coordenadora ainda disse que a Abraji possui um programa de proteção legal disposto a agir pelos profissionais e está disponível para auxiliar e ouvir todos que precisarem, principalmente os freelancers de locais afastados, já que eles não possuem uma equipe de advogados. Por fim, recomendou: “Nenhuma matéria vale a vida e é possível, sim, você trabalhar em rede. Não fique sozinho”.

Jornalismo investigativo na veia

A exemplo de anos anteriores, o Congresso contou com a cobertura da Redação-Laboratório do Projeto Repórter do Futuro, da OBORÉ, parceira da Abraji desde a criação da entidade. Neste ano, a atividade de cobertura contou com uma equipe de 128 pessoas, dentre estudantes, jornalistas recém-formados e veteranos das redações, divididos em núcleos como reportagem, edição, gestão, artes e redes sociais.

“Nós contamos com um trabalho importantíssimo da OBORÉ na redação laboratório, que segue o DNA da Abraji na formação de novos repórteres. É um grande desafio cobrir todas as atividades que ocorrem simultaneamente durante os quatro dias e nós temos a OBORÉ como parceira nessa missão”, afirma Paula.

Basília também reconhece o desafio de cobrir um seminário volumoso em que nem os participantes conseguem acompanhar presencialmente todas as atrações. “Não dá para você abraçar o mundo de uma vez. A Oboré tem essa missão: abraçar todo o congresso da Abraji e trazer todas as informações”, diz.

Para muitos dos jornalistas responsáveis pela cobertura, a experiência foi única. A ingressante no jornalismo, Beatriz Hadler, da ECA-USP, e o pós-graduando Vinicius Rodrigues, da Unesp, afirmaram que foi o primeiro contato que tiveram com o Congresso. “Eu acho que são quatro dias de imersão no jornalismo e que você sai revigorado”, declarou Beatriz.

Novato na Redação, o estudante Luã Souza, da UFRJ, enfrentou desafios já conhecidos da estudante mais veterana das coberturas, Ana Rossini, da PUCPR. Além da gestão de tempo, os dois repórteres fizeram longas viagens, já que vieram do Rio de Janeiro e do Paraná, respectivamente, apenas para sentirem ‘o gostinho’ do jornalismo na prática.

Natasha Meneguelli, uma das coordenadoras do núcleo de redes do projeto, temeu pela cobertura diante do volume de trabalho: “Nós tínhamos muita coisa para não dar certo e, no fim, deu. O pessoal se empenhou bastante, fez um bom trabalho e conseguiu superar dificuldades”, afirmou em entrevista ao blog.

Para Milena Vogado, a presença no congresso não foi novidade, mas a recém-formada exerceu funções diversas na redação: repórter, documentadora e publicadora das matérias. Apesar da sobrecarga, ela afirma ter gostado de trabalhar em tantas frentes. “Eu gostei muito de subir as matérias no blog porque eu era a primeira pessoa a vê-las postadas. Isso é um privilégio muito grande”, afirma.

Cristiane Paião participa dos eventos da Abraji há mais de 10 anos e Caroline Oliveira, há quase uma década. Neste ano, as duas editoras elogiaram a diversidade que a organização trouxe às palestras — com discussões sobre a Amazônia e sobre as religiões na política. “Eu acho que o desafio maior, assim como nos outros anos, é conseguir passar para as pessoas, cujos textos eu estou editando, alguma troca”, ressaltou Caroline.

Enquanto os jornalistas esperam pela chegada da ‘melhor época do ano’, a presidente da Abraji, Katia Brembatti, atiça a curiosidade dos apaixonados pela comunicação e dá um spoiler do que vem por aí em 2025: “comemorações”. Vale conferir.

A cobertura oficial do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, sob coordenação da OBORÉ e do Conselho de Orientação Profissional do Projeto. Conta com a parceria institucional da Abraji e apoio do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD), da Jornalismo Júnior (ECA-USP) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo. Reprodução permitida desde que citada a fonte.

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