30/10/2022

“Estas eleições são as mais importantes do mundo no atual contexto político internacional”, afirma Maringoni

O sexto encontro do módulo Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo foi marcado pelo contexto político atual: as eleições presidenciais de 2022. “Estas eleições são as mais importantes do mundo no atual contexto político internacional. Os olhos estão voltados para cá, este é o país mais importante que a extrema direita pode vir a dirigir”, afirma o jornalista, cartunista e professor de Relações Internacionais, Gilberto Maringoni.

Os estudantes do Projeto Repórter do Futuro foram convidados à audição prévia da obra audiovisual ‘Doces Poderes’, de Lúcia Murat (1996). O filme retrata a forma como o poder político se estabelece no país, mostrando as forças que regem uma disputa eleitoral, desde a construção de campanhas político-partidárias, a acordos, jogos de poder, manipulação, monetização das relações humanas e conflitos éticos, até uma reflexão sobre o papel da mídia e dos jornalistas.

Para o jornalista, diretor de TV, escritor e roteirista, Ricardo Soares, o filme de 1996 continua atual no que diz respeito à dinâmica das campanhas políticas, principalmente quanto à manipulação de fatos e informações.

“Não acredito em isenção jornalística, isso o filme deixa muito claro”, afirma Soares que carrega consigo a experiência de mais de 23 anos trabalhados em diferentes campanhas eleitorais. “Não depende só do jornalista, depende de um sistema e de uma estrutura complexa que é posta ali, como por exemplo as empresas detentoras dos meios de comunicação e os partidos políticos.”

Soares destaca que um dos grandes desafios na construção de campanhas eleitorais é sair da bolha: “Eu acredito muito ainda na campanha do ‘téti-a-téti’, conversando com as pessoas. As redes sociais, a TV e os meios de comunicação também são importantes, mas nada substitui a rua”.

Soares e Maringoni concordam que os jornalistas e os meios de comunicação têm influência na disputa eleitoral, mas que os formatos ainda promovidos pelos grandes veículos e meios de massa deixam a desejar e não cumprem o papel fundamental que é o de informar. “Os debates são exaustivos, com falas decoradas e em horários não acessíveis para boa parte da população”.

E quando se fala sobre acesso à informação, Maringoni afirma que não é verdade dizer que os brasileiros não se interessam ou não entendem de política: “Esta campanha foi, e está sendo, a campanha mais politizada dos últimos anos. Não é verdade que as pessoas não se interessam por política. Os blocos que se formaram nos dois lados demonstram isso. São blocos impermeáveis e que não permitem nenhuma interferência. Os escândalos, por exemplo, não conseguiram romper a blindagem dos grupos.”

Novas tecnologias

Em uma disputa eleitoral o que está em jogo não é apenas a informação, mas também o alcance e a distribuição dela. E, neste sentido, os aplicativos de comunicação, como o Whatsapp, a internet e as redes sociais têm papel fundamental.

“O uso da tecnologia é uma faca de dois gumes, tanto se pode assegurar nelas a transmissão de informações e fatos reais, quanto manipular fatos e distribuir informações falsas”, afirma Maringoni.

Em 2021, o número de domicílios com acesso à internet no Brasil chegou a 90,0%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, isso significa cerca de 65,6 milhões de domicílios conectados.

E quando se recorta para o uso das redes sociais, a pesquisa Digital 2022: Brasil, do DataReportal - Global Digital Insights, revela que no Brasil, são 171,5 milhões de usuários ativos nas redes sociais, o que representa 79,9% da população brasileira.

De acordo com a pesquisa, realizada em fevereiro de 2022, para 65% dos brasileiros, o principal motivo de usar as redes sociais é para ‘Manter contato com amigos e familiares’. Na lista dos principais motivos também aparecem: ‘Ler notícias’ com 57,4% e ‘Procurar produtos para comprar’, com 46,7%.

Sobre o uso das tecnologias nas campanhas eleitorais, Ricardo destaca: “A direita se apropria das redes sociais de uma maneira muito mais dinâmica. A esquerda também fez bons trabalhos, como por exemplo, a criação do perfil do ‘Haddad debochado’, em 2018.”

Para Ricardo, o caminho é olhar para o movimento, para o como eles fazem, não o que criam e compartilham, afinal “o que temos, em termos gerais, é muita criatividade e pouco conteúdo”. Completa ainda que, em termos de cultura, não trabalhamos com a informalidade como poderíamos, ou deveríamos, fazer: “Somos e vivemos em um país tropical e o que vemos são pessoas e jornalistas engravatados/as, falando todos com o mesmo sotaque, com uma formalidade que não chega em todo mundo. Falas densas e intelectualizadas.”

O que está em jogo?

“O que acontece no Brasil é o inverso do que acontece no resto do mundo. Aqui temos uma disputa real, conseguiu-se hegemonizar uma frente amplíssima para a derrubada do fascismo. Se Lula ganhar o Brasil se torna um ponto de referência na defesa da democracia no sul do mundo”, afirma Maringoni, completando que se o oposto acontecer, o autoritarismo é quem vence e, com ele, a destruição da Amazônia e o retrocesso da humanidade.

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