25/02/2023

“Nóis sofre, mas nóis goza” com a Banda Operária da Lapa

O evento “Auê de Carnaval” irá reunir foliões para curtir o bloco “Nóis sofre, mas nóis goza”, na Praça Vladimir Herzog, às 17h de segunda-feira, 20. A Banda Operária da Lapa, centenária corporação musical operária da cidade de São Paulo, dará ritmo aos foliões.

Enio Squeff, 80, jornalista e artista plástico, irá preparar dez estandartes para ornamentar o bloco. O evento terá ainda a presença de Jorge Araújo, José Pola Galé, Sergio Gomes, e outros jornalistas das Agências Folha na década de 1970, criadores do festejo. Squeff se debruça sobre a cultura brasileira, mais especificamente no ritmo de vida paulistano.

O percurso tradicional do bloco, desenhava pelas ruas ao redor da redação da Folha de São Paulo, um L de Lourenço, que também representava letra inicial de liberdade. Entenda:

Fotos: duas ilustrações de Ênio Squeff para o bloco "Nóis sofre, mas nóis goza".

- Da crônica de Lourenço Diaféria ao bloco “Nóis sofre, mas nóis goza”

Travestido de bloco, a passeata em solidariedade ao jornalista preso pela ditadura empresarial-militar, ganhou força à favor da libertação de Diaféria. Após a publicação da crônica “Herói. Morto. Nós”, em 1º de setembro de 1977, Diaféria foi preso pelo regime autoritário. O texto, entretanto, elogiava a bravura de um sargento dos bombeiros, que em ato hercúleo, morreu atacado por ariranhas, ao salvar uma criança que havia caído em um lago de Brasília.

O jornalista, porém, desagradou o regime ao comparar o ato hercúleo ao monumento de Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro. “E, todavia, digo, com todas as letras: prefiro esse sargento ao herói Duque de Caxias”. E seguiu, “o povo está cansado de espadas e cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal”.

Duas semanas após a publicação, o jornalista, redator da Folha desde 1964, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Além da mobilização institucional da Folha de São Paulo, que publicou a coluna de Diaféria em branco, e o manifesto assinado por 167 jornalistas da empresa, Jorge Araújo, José Pola Galé, Sergio Gomes, e outros jornalistas das Agências Folha na década de 1970 lançaram o “bloco” “Nóis sofre, mas nóis goza”, na verdade uma passeata.

O bloco começava junto ao monumento do Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel, seguia pela Avenida Rio Branco e Avenida Ipiranga, até chegar à Igreja da Consolação. Sergio Gomes, jornalista das Agências Folha à época, conta que o percurso foi pensado para formar um L em solidariedade a Lourenço, e em defesa da liberdade. Veja no mapa.

Fotos: mapa com o percurso original do bloco "nóis sofre, mas nóis goza".

Texto de Thaís M.Manhães com edição de Ana Luisa Zaniboni Gomes.

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.