Pesquisador aponta que é necessário entender a educação para além do ensino regular
Quais são os desafios da escola pública nos dias de hoje? A este questionamento, o professor e pesquisador Elie Ghanem, da Faculdade de Educação da USP, aponta que eles são os mesmos, tanto para o setor público, quanto para o privado. O educador participou de encontro com estudantes do Projeto Repórter do Futuro, no curso "Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo", no último sábado, 13/11. O filme debatido foi "Vocacional - uma aventura humana", de Toni Venturi.
O pesquisador ressaltou que é importante perceber que pessoas são educadas antes mesmo de ingressarem na educação regular.
"O ambiente familiar tem importância decisiva na nossa formação. Nós estamos acostumados a falar de educação [apenas] como escola, estritamente. As políticas educacionais no Brasil, especialmente, são políticas estritamente escolares, e eu acho que a gente precisaria reconhecer adequadamente a multiplicidade de agentes educacionais e o fato de que essa multiplicidade é fracionada e descoordenada", pontuou Ghanem.
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Apesar de nem todos admitirem, o pesquisador afirma que existem três agentes educacionais principais que são a família, a escola e os meios de comunicação de massas. E destaca que, especificamente sobre os meios de comunicação, há uma divergência grande sobre seu caráter educativo.
É senso comum ouvir falar de educação e sempre entender como algo positivo. No entanto, o pesquisador afirma que também existe má educação. "Tudo é educativo, para o bem ou para o mal". Os diferentes textos que crianças, adolescentes e adultos têm acesso possuem um caráter educativo, seja material acessado via redes sociais e internet, por exemplo, como em livros ou nas relações que estabelecem durante a vida.
Elie Ghanem também ressaltou que educação é um elemento para toda a vida e a todo momento se está aprendendo. Poucas vezes se reflete sobre o fato de que diferentes elementos também são capazes de ensinar. O pesquisador ressalta que o modelo educacional atual coloca uma centralidade no ensino regular e, por vezes, não leva em consideração esses outros elementos. "Muito do que nós temos como ensino visa resultados limitados de aprendizagem", disse.
O que o professor advoga é que a educação precisa ser entendida de maneira muito mais ampla, diferente de como tem sido encarada nos dias de hoje. Ele considera que alguns aspectos estão fragmentados como, por exemplo, a atuação dos três poderes em comum com a sociedade civil.
"Nós temos boas leis. A sessão da constituição sobre educação tem 10 artigos. O artigo 205 diz que educação é direito de todos, dever da família e do Estado", apontou. No entanto, o pesquisador reforça que essas leis precisam ser interpretadas. Quando se aponta que a educação é um direito de todos, o que se entende por educação? E qual o entendimento sobre o que são esses direitos? Para o pesquisador, nem todos estão cientes do que se tratam esses conceitos.
"Quando trato disso com professoras de escola pública, tratam disso para o pleno desenvolvimento delas. Ninguém dá o que não tem. Se o professorado não tem meios de se desenvolver, raramente ele pode colaborar com o pleno desenvolvimento das outras pessoas", disse. "A nossa oferta escolar é baseada numa estrutura hierárquica, burocratizada, que não leva em consideração nem os seus próprios agentes educacionais", completou.
O curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo traz obras cinematográficas que servem como pano de fundo para uma discussão mais embasada sobre diferentes aspectos da cidade como educação, mobilidade, cultura, democracia, entre outros.
Sobre o Curso
Neste novo curso, os alunos serão convidados a assistir filmes, participar de debates, reflexões e entrevistas coletivas com especialistas sobre as obras cinematográficas e as temáticas envolvidas na programação, além de produzirem, durante o percurso, trabalhos jornalísticos que deverão ser publicados em diferentes formatos e plataformas (textos, vídeos, áudios, entre outros).
O curso é realizado pelo Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão de Políticas Públicas e Sociais (IPFD), em parceria com a OBORÉ Projetos Especiais, e conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Cronograma
6, 13, 20 e 27 de novembro e 4, 11 e 18 de dezembro, 15, 22 e 29 de janeiro, sempre aos sábados, das 10h às 12h30 – Encontros (Discussão + Palestra + Entrevista coletiva)
18 de dezembro a 29 de janeiro – Organização em grupos e produção das peças (reportagens, documentários, produtos audiovisuais e/ou multimídia) pelos alunos
29 de janeiro a 7 de fevereiro – Publicação dos materiais.
Para dúvidas ou mais informações escreva para cinemaejornalismo@ipfd.org.br.
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