25/02/2023

Referência no país por popularizar conhecimentos no campo da saúde, Drauzio Varella é homenageado com Prêmio Vladimir Herzog Especial 2022

Drauzio Varella será homenageado pela trajetória de sua vida pública no próximo dia 25 de outubro, no Tucarena, em São Paulo, durante a 44ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

A data também marca os 30 anos do Massacre Carandiru - o assassinato de 111 detentos por 74 policiais militares no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, na zona norte da capital paulista, em 2 de outubro de 1992 – momento de incontestável violação dos Direitos Humanos. Par e passo, está em tramitação na Câmara dos Deputados projeto de lei (PL 2821/21), já aprovado pela Comissão de Segurança Pública, que anistia os policiais envolvidos na chacina. O PL ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e pelo Plenário da Câmara.

“Estação Carandiru” está entre as obras literárias de maior sucesso de Drauzio Varella. O livro trata de sua experiência enquanto médico voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, na época o maior presídio do Brasil, em que trabalhou durante mais de uma década com ações de prevenção e tratamemto do HIV. Lançado em 1999 e transformado em filme em 2003, por Hector Babenco, o livro recebeu o Prêmio Jabuti 2000 de livro do ano e, desde então, já vendeu centenas de milhares de exemplares.

“A consequência mais importante do Massacre foi o aparecimento do PCC (Primeiro Comando da Capital). Está no estatuto do PCC que uma das funções da criação do comando foi vingar o massacre do Carandiru. Quando aconteceu o massacre, o Estado perdeu o controle dos presídios”, explica Drauzio Varella em vídeo publicado em seu canal do YouTube.

No sistema penitenciário brasileiro, castigar o detento se sobrepõe ao dever de recuperá-lo e integrá-lo à sociedade. Celas superlotadas e violência por parte dos agentes do Estado ainda são rotina dentro dos presídios. Não mudou após o Massacre.

Popularização do conhecimento

Drauzio furou a bolha do mundo acadêmico e chegou ao grande público traduzindo conceitos complexos da medicina e da saúde pública. A facilidade do médico para trabalhar com ações de mobilização e comunicação começou em meados dos anos 1980, com campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção à aids em rádios como Jovem Pan AM e 89 FM. Participou de séries sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico, da Rede Globo.

Em 1989, Drauzio iniciou um trabalho voluntário no Carandiru e lá atuou por 13 anos. A década foi marcada pelo início da epidemia de HIV/Aids no Brasil, inclusive na população carcerária. Ele foi um dos primeiros médicos a tratar e a pesquisar sobre o vírus, divulgando formas de contágio, esclarecendo os tabus da doença e discutindo cuidados e prevenção. Com o avanço dos tratamentos e com o distanciamento histórico, Drauzio continua a usar recursos de comunicação para conversar com uma nova geração que não viveu o terror daquela época, traçando um panorama histórico do HIV/Aids e reforçando a importância da prevenção.

Outro trabalho de divulgação conhecido pelos brasileiros é a série televisiva “Brasil sem cigarro”, dedicada à luta contra o tabagismo no país. Atualmente alerta a população, principalmente aos jovens, sobre o perigo dos cigarros eletrônicos para a saúde. Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, fez aparições periódicas nos canais televisivos, em colunas de periódicos e por meio de suas redes sociais para explicar à população sobre o vírus e formas de se prevenir.

Sobre o homenageado

Drauzio Varella é médico cancerologista formado pela USP. Nasceu em São Paulo, em 1943. No início dos anos 1970, trabalhou com o professor Vicente Amato Neto, na área de moléstias infecciosas do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Durante 20 anos, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga, na época pertencente ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS).

Foi um dos pioneiros no tratamento da aids, especialmente do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo. Desse ano, até a desativação do presídio, em setembro de 2002, trabalhou como médico voluntário. Atualmente, faz o mesmo trabalho na Penitenciária Feminina de São Paulo.

Na Amazônia, região do baixo rio Negro, Drauzio Varella dirige um projeto de bioprospecção de plantas brasileiras com o intuito de obter extratos para testá-los experimentalmente em células tumorais malignas e bactérias resistentes aos antibióticos. Esse projeto, apoiado pela FAPESP, é realizado nos laboratórios da UNIP (Universidade Paulista) em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês.

Sobre a premiação

A cerimônia solene do 44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos será no dia 25 de outubro, terça-feira, das 20h às 21h30, no Tucarena, em São Paulo.

O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog (IVH).

Um arco de alianças formado pela Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC, Canal Universitário de São Paulo (CNU), União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ atua como grupo de parceiros realizadores desta 44º edição.

SAIBA MAIS

44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos | 2022

Solenidade de premiação: 25 de outubro de 2022, terça-feira, das 20h às 21h30, no Tucarena – Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes, SP

A cerimônia será transmitida ao vivo pela TV PUC.

Mais informações em www.premiovladimirherzog.org

Texto de Thaís M.Manhães com edição de Ana Luisa Zaniboni Gomes.

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